Seu novo livro A mais pura verdade sobre a Desonestidade(The Honest Truth about Dishonesty) vai contra a visão de que:
- As pessoas são desonestas ou criminosas por uma simples questão de custo-benefício (como o modelo proposto pelo ganhador do nobel em economia Gary Becker).
- A corrupção é uma atitude deliberada de pessoas altamente sem escrúpulos.
- Basta aumentar a punição e diminuir a impunidade para solucionar o problema.

Apresentando o resultado e a metodologia de suas pesquisas, Dan Ariely demonstra que os maiores prejuízos nas organizações advém das pequenas "trapaças" que pessoas comuns acham ok em fazer, e ainda assim se vêem como honestas.
Dan enfatiza que certas condições podem estimular esse comportamento, que muitas vezes chega até a ser inconsciente: a pessoa só "cai em si" sobre a desonestidade após ser confrontada.
Segundo suas pesquisas, o risco de ser pego e a quantia monetária envolvida não tiveram influência crucial como ocorreu com outros fatores, dentre os quais:
Habilidade de Racionalizar e Criatividade - Pessoas criativas ou boas em arrumar desculpas podem encontrar muitas formas de justificar a si mesmas a desonestidade que cometem. Alguns se sentem injustiçados por algum motivo e se convencem de que a desonestidade é uma compensação.
Conflitos de Interesse - Muitas vezes o interesse particular de uma pessoa prevalece no momento de tomar uma decisão que envolve um grupo, como pode acontecer nas recomendações de advogados, médicos, consultores, mecânicos, etc aos seus clientes - que podem visar mais o benefício próprio do que do contratante - e eles não verão nada de errado nisso.
Um primeiro ato imoral (Efeito "Que se Dane") - A pessoa que comete 1 único ato imoral, por pequeno que seja, pode abalar sua auto-imagem de pessoa honesta e levá-la a cometer atos imorais cada vez maiores. Um dos testes realizados, foi dar um óculos falsificado às pessoas e os resultados foram muito piores no teste de honestidade.
Esgotamento - Pessoas cansadas ou submetidas à muita informação, antes dos testes de honestidade, tiveram resultados piores do que a média.
Outros se beneficiando da trapaça - Testes de honestidade em que a trapaça de um poderia beneficiar seu grupo, apresentaram índices maiores de desonestidade. Pode ocorrer situação similar com um profissional que não aponta a "trapaça" de um grupo amigo na empresa porque comprometeria o bônus deles.
Ver outros sendo desonestos - Pessoas que viram algum colega fazendo um ato desonesto, apresentaram uma incidência maior de desonestidade.
Cultura - Dependendo de cada cultura, certas situações de desonestidade são mais toleradas do que outras, como adultérios, subornos, lobbying, etc.
Distanciamento do Ato - Quanto mais distante do valor monetário em si, mais fácil é cair na desonestidade. As pessoas que fizeram o teste com fichas (que seriam trocadas por dinheiro) apresentaram maior desonestidade. Em outro teste, também concluíram que é mais fácil para as pessoas roubar uma lata de coca-cola do que o mesmo valor em dinheiro. Por fim, a crescente virtualização do dinheiro (cartões de crédito, transações na web, títulos e derivativos, etc) pode facilitar à tentação para a desonestidade.
Flexibilidade Moral - Nos testes de honestidade, em vários países diferentes, notou-se uma flexibilidade moral. A maioria das pessoas trapaceavam sua pontuação em 10% à 20% nos experimentos em que a trapaça era (propositalmente) possível.
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De acordo com o livro, a desonestidade não é algo exclusivo dos criminosos e amorais. Todos nós, em muitos momentos cometemos deslizes, e somados causam grandes impactos na sociedade como um todo. Ainda assim, não nos vemos como desonestos ou pessoas ruins, e somos capazes de atos extremamente nobres.
Para Dan Ariely, a maioria das pessoas deseja se ver como pessoa honesta, porém, contamos demais com nossa capacidade de auto-controle. Quando a tentação aparece, nosso sistema de pensamento 1 (mais automático, instintivo - ver Kahneman e Taverski) acha difícil não aproveitar a oportunidade de se beneficiar, e para resolver o conflito, buscamos formas de nos convencer de que está tudo bem.
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Nas pesquisas presentes no livro, algumas ações simples tiveram grande impacto para reduzir a desonestidade e nos ajudar com o nosso (falho) auto-controle:
- Lembretes - Colocar simples lembretes morais no momento da tentação. Pedir a assinatura das pessoas antes do ato, ou fazer um juramento, aumentaram bastante o nível de honestidade (mesmo ateus jurando sobre a Bíblia, apresentaram níveis maiores de honestidade).
- Eliminar o conflito de interesses - Compreender como os conflitos de interesse e conceber meios para que o cliente final e o prestador de serviço tenham interesse compartilhado.
- Reduzir o esgotamento - Cuidar para que em situações que possibilitem a desonestidade, as pessoas não estejam muito cansadas fisicamente e mentalmente.
- Supervisão - As pessoas não querem ser vistas pelos seus pares como desonestas.
- Cuidado com primeiras trapaças e o contágio social - Mesmo pequenas desonestidades podem levar ao efeito "que se dane" em alguém ou gerar uma onda de desonestidade, e portanto devem ser coibidas e trabalhadas para que não aconteçam novamente.


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