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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Introdução ao Direito...


Uma manhã, quando nosso novo professor de "Introdução ao Direito" entrou na sala,
a primeira coisa que fez foi perguntar o nome a um aluno que estava sentado na primeira fila:
- Como te chamas?
- Chamo-me Juan, senhor.
- Saia de minha aula e não quero que voltes nunca mais! - gritou o desagradável professor.
Juan estava desconcertado.
Quando voltou a si, levantou-se rapidamente, recolheu suas coisas e saiu da sala.
Todos estávamos assustados e indignados, porém ninguém falou nada.
- Agora sim! - e perguntou o professor - para que servem as leis?...
Seguíamos assustados porém pouco a pouco começamos a responder à sua pergunta:
- Para que haja uma ordem em nossa sociedade.
- Não! - respondia o professor.
- Para cumpri-las.
- Não!
- Para que as pessoas erradas paguem por seus atos.
- Não!!
- Será que ninguém sabe responder a esta pergunta?!
- Para que haja justiça - falou timidamente uma garota.
- Até que enfim! É isso... para que haja justiça.
E agora, para que serve a justiça?
Todos começávamos a ficar incomodados pela atitude tão grosseira.
Porém, seguíamos respondendo:
- Para salvaguardar os direitos humanos...
- Bem, que mais? - perguntava o professor.
- Para diferençar o certo do errado... Para premiar a quem faz o bem...
- Ok, não está mal porém... respondam a esta pergunta:
agi corretamente ao expulsar Juan da sala de aula?...
Todos ficamos calados, ninguém respondia.
- Quero uma resposta decidida e unânime!
- Não!! - respondemos todos a uma só voz.
- Poderia dizer-se que cometi uma injustiça?
- Sim!!!
- E por que ninguém fez nada a respeito?
Para que queremos leis e regras
se não dispomos da vontade necessária para praticá-las?
- Cada um de vocês tem a obrigação de reclamar quando presenciar uma injustiça. Todos.
Não voltem a ficar calados, nunca mais!
- Vá buscar o Juan - disse, olhando-me fixamente.
Naquele dia recebi a lição mais prática no meu curso de Direito.
 
Quando não defendemos nossos direitos perdemos a dignidade e a dignidade não se negocia.

domingo, 12 de agosto de 2012

Resumo do Livro: DESONESTIDADE - Dan Ariely

Dan Ariely, psicólogo e pesquisador em Economia Comportamental, é um dos meus escritores favoritos! A mistura de clareza, bom humor e referência à pesquisas me agrada bastante.

Seu novo livro A mais pura verdade sobre a Desonestidade(The Honest Truth about Dishonesty) vai contra a visão de que:
  • As pessoas são desonestas ou criminosas por uma simples questão de custo-benefício (como o modelo proposto pelo ganhador do nobel em economia Gary Becker).
  • A corrupção é uma atitude deliberada de pessoas altamente sem escrúpulos.
  • Basta aumentar a punição e diminuir a impunidade para solucionar o problema.

Livro Desonestidade - Dan Ariely

Apresentando o resultado e a metodologia de suas pesquisas, Dan Ariely demonstra que os maiores prejuízos nas organizações advém das pequenas "trapaças" que pessoas comuns acham ok em fazer, e ainda assim se vêem como honestas.

Dan enfatiza que certas condições podem estimular esse comportamento, que muitas vezes chega até a ser inconsciente: a pessoa só "cai em si" sobre a desonestidade após ser confrontada.

Segundo suas pesquisas, o risco de ser pego e a quantia monetária envolvida não tiveram influência crucial como ocorreu com outros fatores, dentre os quais:

Habilidade de Racionalizar e Criatividade - Pessoas criativas ou boas em arrumar desculpas podem encontrar muitas formas de justificar a si mesmas a desonestidade que cometem. Alguns se sentem injustiçados por algum motivo e se convencem de que a desonestidade é uma compensação.

Conflitos de Interesse - Muitas vezes o interesse particular de uma pessoa prevalece no momento de tomar uma decisão que envolve um grupo, como pode acontecer nas recomendações de advogados, médicos, consultores, mecânicos, etc aos seus clientes - que podem visar mais o benefício próprio do que do contratante - e eles não verão nada de errado nisso.

Um primeiro ato imoral (Efeito "Que se Dane") - A pessoa que comete 1 único ato imoral, por pequeno que seja, pode abalar sua auto-imagem de pessoa honesta e levá-la a cometer atos imorais cada vez maiores. Um dos testes realizados, foi dar um óculos falsificado às pessoas e os resultados foram muito piores no teste de honestidade.

Esgotamento - Pessoas cansadas ou submetidas à muita informação, antes dos testes de honestidade, tiveram resultados piores do que a média.

Outros se beneficiando da trapaça - Testes de honestidade em que a trapaça de um poderia beneficiar seu grupo, apresentaram índices maiores de desonestidade. Pode ocorrer situação similar com um profissional que não aponta a "trapaça" de um grupo amigo na empresa porque comprometeria o bônus deles.

Ver outros sendo desonestos - Pessoas que viram algum colega fazendo um ato desonesto, apresentaram uma incidência maior de desonestidade.

Cultura - Dependendo de cada cultura, certas situações de desonestidade são mais toleradas do que outras, como adultérios, subornos, lobbying, etc.

Distanciamento do Ato - Quanto mais distante do valor monetário em si, mais fácil é cair na desonestidade. As pessoas que fizeram o teste com fichas (que seriam trocadas por dinheiro) apresentaram maior desonestidade. Em outro teste, também concluíram que é mais fácil para as pessoas roubar uma lata de coca-cola do que o mesmo valor em dinheiro. Por fim, a crescente virtualização do dinheiro (cartões de crédito, transações na web, títulos e derivativos, etc) pode facilitar à tentação para a desonestidade.

Flexibilidade Moral - Nos testes de honestidade, em vários países diferentes, notou-se uma flexibilidade moral. A maioria das pessoas trapaceavam sua pontuação em 10% à 20% nos experimentos em que a trapaça era (propositalmente) possível.

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De acordo com o livro, a desonestidade não é algo exclusivo dos criminosos e amorais. Todos nós, em muitos momentos cometemos deslizes, e somados causam grandes impactos na sociedade como um todo. Ainda assim, não nos vemos como desonestos ou pessoas ruins, e somos capazes de atos extremamente nobres.

Para Dan Ariely, a maioria das pessoas deseja se ver como pessoa honesta, porém, contamos demais com nossa capacidade de auto-controle. Quando a tentação aparece, nosso sistema de pensamento 1 (mais automático, instintivo - ver Kahneman e Taverski) acha difícil não aproveitar a oportunidade de se beneficiar, e para resolver o conflito, buscamos formas de nos convencer de que está tudo bem.

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Nas pesquisas presentes no livro, algumas ações simples tiveram grande impacto para reduzir a desonestidade e nos ajudar com o nosso (falho) auto-controle:
  • Lembretes - Colocar simples lembretes morais no momento da tentação. Pedir a assinatura das pessoas antes do ato, ou fazer um juramento, aumentaram bastante o nível de honestidade (mesmo ateus jurando sobre a Bíblia, apresentaram níveis maiores de honestidade).
  • Eliminar o conflito de interesses - Compreender como os conflitos de interesse e conceber meios para que o cliente final e o prestador de serviço tenham interesse compartilhado.
  • Reduzir o esgotamento - Cuidar para que em situações que possibilitem a desonestidade, as pessoas não estejam muito cansadas fisicamente e mentalmente.
  • Supervisão - As pessoas não querem ser vistas pelos seus pares como desonestas.
  • Cuidado com primeiras trapaças e o contágio social - Mesmo pequenas desonestidades podem levar ao efeito "que se dane" em alguém ou gerar uma onda de desonestidade, e portanto devem ser coibidas e trabalhadas para que não aconteçam novamente.


Livro Desonestidade - Dan ArielyLivro Desonestidade - Dan Ariely