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sábado, 26 de fevereiro de 2011

Vai ai um seuvicinho,,,,,,,,,,,,,é pegar ou largar....esse paga bem.

Obrigado amiga Leni Nunes Morais

O cara termina o segundo grau e não tem vontade de fazer uma faculdade.
O pai, meio mão de ferro, dá um apertão:
- Ahh, não quer estudar? Bem...perfeito. Vadio dentro de casa eu não mantenho, então vai trabalhar...
O velho, que tem muitos amigos, fala com um deles, que fala com outro até que ele consegue uma audiência com um político que foi seu colega lá na época de muito tempo atrás:
- Rodriguez!!!! Meu velho amigo!!! Tu te lembra do meu filho? Pois é, terminou o segundo grau e anda meio à toa, não quer estudar. Será que tu não consegue nada pro rapaz não ficar em casa vagabundeando?
Aos 3 dias, Rodriguez liga:
- Zé, já tenho. Assessor na Comissão de Saúde no Congresso, R$ 9.000,00 por mês, prá começar.
- Tu tá loco!!!!! O guri recém terminou o colégio, não vai querer estudar mais, consegue algo mais abaixo...
Dois dias depois:
- Zé, secretário de um deputado, salário modesto, R$ 5.000,00, tá bom assim?
- Nãooooo, Rodriguez, algo com um salário menor, eu quero que o guri tenha vontade de estudar depois....Consegue outra coisa.
- Olha Zé, a única coisa que eu posso conseguir é um carguinho de ajudante de arquivo, alguma coisa de informática, mas aí o salário é uma merreca, R$ 2.800,00 por mês e nada mais....
- Rodriguez, isso não, por favor, alguma coisa de 500,00 ou 600,00, prá começar.
- Isso é impossível Zé!!!*
- Mas, por que???*
- PORQUE ESSES SÃO POR CONCURSO PARA PROFESSOR, PRECISA TÍTULO SUPERIOR, MESTRADO ETC.... É DIFÍCIL

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

O colapso do Enem não é acidental

Muito pode se ver por intermédio da lamentável radiografia acerca do Ensino no Brasil que, apesar de um considerável contingente de profissionais de ensino com doutorado, inclusive, não conseguem se livrar dos grilhões da ideologia e da falta de comprometimento com a coisa pública e mantém o país a reboque do desenvolvimento econômico mundial.


Não admira que estejamos importando mão-de-obra especializada de outros países para postos de trabalhos de maior complexidade e de maior valor agregado.


Isso nos mantém atrelados à condição de meros produtores de commodities à mercê de especulações internacionais.


Que governo, então, dará solução e mudará este cenário?
Quando é que a sociedade irá além do simples ato de depositar um voto na urna?


Bem que os apresentadores de programas vespertinos e dominicais poderiam, ao invés de apresentar e explorar bossalidades e violência poderiam ter espírito público e estimular esse tipo de debate nos seus programas entre especialistas e telespectadores. Quem sabe não teríamos uma mudança? Porque nos últimos anos já se viu que se depender do governo nada acontece. Contra fatos não há argumentos.




O colapso do Enem não é acidental
WANDERLEY MESSIAS DA COSTA

O ESTADO DE SÃO PAULO

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi criado pelo Ministério da Educação (MEC) há pouco mais de uma década para avaliação anual de desempenho de alunos e escolas do País, a exemplo do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, do Exame Nacional de Desempenho do Estudante e das avaliações trienais dos cursos de pós-graduação conduzidas pela Capes. Sob esse aspecto, estamos ajustados à atual tendência internacional em que governos de países ricos (como os EUA) ou emergentes (como o Brasil) lutam para reverter o declínio da qualidade da educação dos seus sistemas públicos e fazem uso intensivo de avaliações nacionais para subsidiar políticas no setor.

O que os resultados do Enem têm revelado sobre o nosso ensino médio? Basicamente, o de sempre. Excelente desempenho dos alunos das escolas privadas mais caras e níveis muito baixos de qualidade do sistema público, com as exceções de praxe, casos de alguns estabelecimentos tradicionais de prestígio, escolas militares e escolas técnicas. Em suma, um instrumento de avaliação que se tem limitado a apontar a cada ano os males de um sistema que padece de grave crise e sobre o qual o governo federal tem reduzido poder de interferência, pois o ensino médio do País é basicamente da responsabilidade dos governos estaduais. Além do mais, está demonstrado que a prioridade do governo federal nos últimos anos tem sido a ampliação da oferta de vagas no ensino superior, expressa nos pesados investimentos nas universidades federais e no programa de bolsas em instituições privadas.

Há dois anos o MEC decidiu introduzir ajustes no Enem e, na prática,acoplou o ensino médio ao ensino superior - este sob seu controle -, transformando-o em exame nacional unificado com a ambição de substituir os vestibulares até então descentralizados das universidades públicas federais. Um argumento então utilizado e exposto em documento na ocasião é que esse novo sistema, baseado na aplicação de uma única prova, propiciaria uma "racionalização da disputa por essas vagas, de forma a democratizar a participação nos processos de seleção para vagas em diferentes regiões do País". Outro argumento defende a adoção de exame nacional que seja ao mesmo tempo unificado, sofisticado e inovador e que tivesse o poder de reduzir a "influência dos vestibulares tradicionais nos conteúdos ministrados no ensino médio". Por essa estratégia, tratava-se ao cabo de delegar às universidades federais o papel de "protagonistas no processo de repensar o ensino médio" do País. E é sob a batuta do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão do MEC que ali se intitula detentor de "absoluto know how para conduzir com sucesso esse processo", que nossos milhões de jovens vestibulandos são instados a participar desse novo e grandioso sistema de seleção.

O que nos ensinam as experiências de 2009 e 2010 com esse Enem renovado? Primeiro, que a adesão das universidades federais não correspondeu às expectativas iniciais e, apesar da sua reduzida autonomia (administrativa e financeira) e do esforço de convencimento do MEC, parte delas reluta em substituir integralmente seus vestibulares pelo exame unificado. Segundo, a análise das duas provas aplicadas revela que, apesar da metodologia expressa nos seus cinco complexos "eixos cognitivos", há dúvidas sobre sua propalada inovação para aferir conhecimentos, e colegas da academia as veem como convencionais. Há até os que avaliam que elas têm qualidade geral inferior à dos exames vestibulares das melhores universidades do País. Terceiro, que inexistem indicadores seguros de que tenha ocorrido de fato a almejada "migração interna" de candidatos das regiões pobres para as ricas, ou vice-versa. Afinal, apesar do vistoso programa de assistência estudantil criado às pressas no ano passado, as universidades federais em sua maioria não dispõem de moradias e sistemas de apoio suficientes e, portanto, é remota a possibilidade de que estudantes carentes de regiões distantes tenham condições, por exemplo, de estudar em instituições das grandes metrópoles do Sudeste.

Por último, e mais grave, a sucessão de desastres na sua execução. Em2009 o País assistiu perplexo à descoberta da escandalosa fraude com o vazamento e a tentativa de venda da prova, o que levou à anulação do certame. Concluído o novo exame, milhares de estudantes não conseguiram acessar o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) para fazer as suas inscrições nos cursos de sua preferência e para os quais foram aprovados. Na edição de 2010, cerca de 20 mil alunos foram eliminados porque havia discrepâncias entre provas e gabaritos e, após batalha judicial, foi oferecido às vítimas aplicação de nova prova. Apurados os resultados finais, novamente o sistema eletrônico central entrou em colapso, naufragou diante dos mais de 4 milhões de inscritos e, mais uma vez, muitos dos aprovados não conseguiram efetivar suas inscrições e matrículas. Existem ainda hoje milhares de vagas não preenchidas e é incerto o desfecho de toda essa confusão.

Em síntese, está comprovado que ambições excessivas nessa área, ainda que ancoradas em concepções e premissas inovadoras, pecam no mais das vezes por ignorar o que é evidente para a maioria dos cidadãos, e esse é o caso do atual Enem. Veja-se a logística precária. Apenas 1/3 das famílias do País dispõem de computadores, as infovias são limitadas e sempre congestionadas e os servidores centrais de modo geral são incapazes de suportar demandas concentradas. Além disso, como assegurar a lisura de grandes exames nacionais num país em que concursos públicos são sistematicamente fraudados, como os da Polícia Federal, Abin, Receita Federal, Polícia Rodoviária e os da OAB?

*WANDERLEY MESSIAS DA COSTA PROFESSOR TITULAR DO DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA DA USP, AUTOR DE CINCO LIVROS, É UM DOS IDEALIZADORES DO CENTRO DE BIOTECNOLOGIA DA AMAZÔNIA

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Assalto "por dentro"

Caros amigos, isto é um blog e em um blog tem-se o direito de ter visões e opiniões que podem, eventualmente, ir de encontro ao senso comum, e por isso trato meu blog como um filho. Com zelo e carinho.
...


A estapafúrdia situação de nossa carga tributária deve-se ao perfil de cidadania omissa e passiva que o cidadão brasileiro permite por entender que democracia restringe-se, apenas, em colocar um voto na urna.


Entra governo de esquerda ou de direita e a capacidade e gana de sangrar o orçamento doméstico do brasileiro parece não ter fim.


E ainda tem-se 87% de aprovação.


Será que o palhaço, por profissão, iniciará uma corrente de mudança dessa situação??


Revoltante, é muita abulia intelectual, não é possível...




Assalto "por dentro"


CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O Globo

Você utiliza serviços de telecomunicações no Rio, no valor de R$100,00, sobre os quais incidem impostos (ICMS, estadual, PIS e Cofins, federais) de 33,65%. Logo, sua conta mensal será de R$133,65, certo?

Errado.

Aqui não valem nem a matemática tradicional nem o bom senso. Aquela conta, na verdade, será de R$150,71. O truque é o seguinte: calcula-se o imposto sobre o preço total do serviço incluindo previamente o imposto. Parece absurdo, e é. Você paga imposto sobre o imposto. Mas é assim que se faz há muito tempo, especialmente com o ICMS.

A questão era a de sempre. Como aumentar a arrecadação para cobrir os gastos crescentes? Detalhe: a alíquota do ICMS é fixada em lei e no Confaz, conselho que reúne os secretários estaduais de Fazenda. É difícil mudá-la. Foi aí que um talento das contas públicas inventou o "cálculo por dentro".

Isso mesmo, uma fórmula matemática que faz o milagre: acrescenta ao preço "líquido" do produto (ou serviço) o valor do imposto e recalcula o imposto sobre o preço total. O passo seguinte foi conseguir interpretações dos tribunais dizendo que esse cálculo é legal.

Não passa no teste da boa lógica ou do simples bom senso. O imposto incide sobre o valor da mercadoria - e ponto final. Está na cara que colocar o imposto no preço e recalcular é um truque para cobrar duas vezes. O resultado é que se cobra uma alíquota acima do estipulado na lei.

Eis um exemplo, apanhado numa conta de telefone celular de S.Paulo, onde o ICMS é de 25% - e já pedindo desculpas ao leitor pelo excesso de números. Na nota fiscal está escrito que o valor do ICMS é de R$98,22 - que são 25% sobre uma base de cálculo, ali referida, de R$392,88, valor total a ser pago pelo usuário.

Ora, retirando-se desse total o valor do imposto, dá o preço líquido do serviço, certo? Temos então: preço líquido do serviço, R$294,66; valor do imposto, R$98,22. Portanto, o imposto efetivamente cobrado representa 33,33% - uma alíquota ilegal.

Como é que isso passa nos parlamentos e nos tribunais? Porque estão todos - deputados, senadores, juízes e mais o Executivo - sempre em busca de dinheiro dos contribuintes para gastar mais.

E por que essas alíquotas turbinadas se aplicam preferencialmente sobre telecomunicações? Porque é dinheiro certo. É fácil arrecadar. O governo não faz nada.

A concessionária, uma operadora, calcula a conta, o imposto, cobra, recebe, separa a parte do governo e manda uma TED para a Receita. São meia dúzia de operadoras, de modo que é fácil fiscalizar.

A mesma situação ocorre na distribuição de energia elétrica. Imposto alto e turbinado.

Resultado: custo Brasil elevado em setores cruciais para a produtividade da atividade econômica, sem contar o peso no orçamento das famílias. Há uma reclamação constante - inclusive feita por gente do governo - que telefones, internet e banda larga no Brasil são muito caros. Verdade. Mas é preciso acrescentar: os impostos estão entre os mais altos do mundo. Não por acaso, telecomunicações representam nada menos que 12% da arrecadação de ICMS. Incluindo energia elétrica e combustíveis, vai a 50%. Ou seja, os governos estaduais vivem de impostos que encarecem a atividade econômica e o custo de vida.

O SindiTelebrasil, entidade que representa as operadoras privadas, observa que os impostos sobre telecomunicações são maiores do que aqueles cobrados sobre cigarros, bebidas e cosméticos. Considerando-se o ICMS e as contribuições federais, PIS e Cofins, a tributação efetiva ("por dentro") paga pelo usuário de telecomunicações varia de 40 a 50%. Em Rondônia chega a 63%, mas é caso único.

O governo Dilma, nisto seguindo o governo Lula, avança com os planos de implantar a banda larga estatal, para atingir as populações mais pobres. Estas seriam excluídas pelas operadoras privadas porque não poderiam pagar tarifas que dessem lucro.

Ora, não precisa de estatal. Basta reduzir os impostos. Aliás, não há como oferecer tarifas acessíveis sem essa redução. Se a estatal da banda larga não precisar recolher impostos, então será um subsídio e uma concorrência desleal.

De todo modo, é para todo o país que a carga tributária é um peso descomunal, por qualquer ângulo que se observe. E é difícil acreditar quando a presidente e membros do governo falam em reduzir impostos, ao mesmo tempo que se comprometem com gastos maiores.

O passo mais importante, inicial, seria estabelecer um programa de longo prazo de redução do tamanho do setor público. Estabelecer, por exemplo, a regra de que o gasto público crescerá sempre abaixo do ritmo de expansão da economia. Aí, sim, se poderia falar da necessária redução de impostos.

Nada é impensável

A análise da jornalista especializada em economia lança luz em pontos que o Prof Demétrio desqualificou em seu recente artigo.
Vale a pena acompanhar e ver a forma com a qual a Economia influencia a Geopolítica que, por sua vez, altera componentes da cultura e da idiossincrasia dos países no Oriente Médio.
De fato, os eventos recentes são muito importantes e tenho experanças de que venham a ser debatidos, com profundidade, em nossas universidades todavia, afastado do enfoque puro de direitos humanos, diversidade cultural etc etc.


Nada é impensável
Míriam Leitão
O GLOBO

O Egito aceitou pela primeira vez em 32 anos que navios iranianos passassem pelo Canal de Suez. Foram para a Síria, para manobras militares conjuntas. Isso preocupa Israel e Estados Unidos. A Europa teme o suprimento de petróleo da Líbia. A Arábia Saudita tem medo do que acontece no Bahrein. O mundo prende a respiração com os fatos do norte da África.

Tudo que acontece hoje em cada país, mesmo pequeno, tem efeitos muito além das suas fronteiras. Não há simplificações possíveis. Tudo é de uma complexidade estonteante. A dúvida na Líbia é para onde vão os chefes tribais, como no Egito era para onde iriam as Forças Armadas. O destino do ditador Muamar Kadafi será o resultado desse jogo tribal, cada vez mais contra ele. Ele cometeu o erro de deixar tribos, principalmente as que ficam perto de Beghazi, em situação social de abandono. A renda superconcentrada é combustível de insatisfação. O que a Europa teme é o suprimento de petróleo e gás, os negócios de suas empresas e o risco de fragmentação do país.

O Egito ainda não voltou ao normal. A bolsa de valores não conseguiu ontem abrir novamente. Teme-se que as ações despenquem. Há um enorme risco de desinvestimento no país. Um exemplo: dias antes da eclosão do movimento, a Votorantim foi ao Egito em missão comandada por Fábio Ermírio de Moraes com um plano de investimento na área de cimento. A tendência é deixar suspenso esse plano até a situação ficar mais estável.Inúmeras empresas estrangeiras suspenderam decisões de investimento. Há cinco milhões de egípcios fora do país e que mandam renda para suas famílias. Essa importante fonte de renda e divisas está também se reduzindo. Desses, um milhão trabalham na Líbia, portanto, os problemas na Líbia também afetam o Egito. O povo que da Praça Tahrir derrubou um ditador quer tudo para já: melhores serviços na educação, saúde, maiores salários, empregos. E quer também que sejam demitidos todos os ministros nomeados por Mubarak. Vários já foram, mas o próprio chefe da junta militar, Mohamed Hussein Tantawi, foi ministro da Defesa de Mubarak por 20 anos. O primeiro-ministro, Ahmed Shafiq, também. Portanto, o novo poder nasceu no velho regime. Até na idade: um tem 79 anos, o outro, 73 anos.

A economia em crise aumenta a insatisfação. O turismo está parado, hotéis e restaurantes, vazios. Bancos com dificuldade de retornar às atividades normais. E os preços dos alimentos estão subindo. O Egito pediu à Austrália que forneça trigo mais barato, mas o governo australiano respondeu que a cotação é internacional. Além disso, a produção do país foi atingida pelas recentes enchentes.

As exportações brasileiras para o Oriente Médio quadruplicaram durante a última década, de US$ 2,04 bi, em 2001, para US$ 10,5 bi, em 2010. A Líbia não é parte desse grupo. Para lá, as vendas saíram de US$ 35 milhões para US$ 456 milhões. Houve um aumento grande de empresas brasileiras nos países árabes, como construtoras, mineradoras, e fornecedoras de alimentos. O desafio agora é manter na nova situação a mesma intensidade das relações. Mas hoje, o pior problema é como proteger as centenas de brasileiros em Tripoli e Benghazi, na Líbia. Os países da região temem o contágio por vários motivos.

Veja-se a situação da Arábia Saudita. Ela é uma monarquia como a de Bahrein, e até agora as repúblicas é que têm caído. A primeira monarquia que cair aterrorizará as outras. Bahrein é um país pequeno, uma ilhota com um milhão de habitantes, mas tem uma ponte que liga à Arábia Saudita.Do lado de Bahrein, a maioria da população é xiita e reclama que não tem seus direitos respeitados porque o governo favorece os sunitas. A Arábia Saudita tem uma pequena parte da população xiita, mas vivendo exatamente perto da ponte que a liga ao Bahrein.

Para complicar ainda mais a situação, em Manama, onde a população está nas ruas protestando, está uma base naval americana de 3.500 efetivos.

A Arábia Saudita tem um governo que parece sólido, a mesma dinastia que governa o país desde que ele foi fundado nos anos 1930. O problema é que os príncipes governantes que se sucedem no cargo ainda são os filhos de Abdulaziz Al-Saud, o fundador do Reino. Ele teve 36 filhos homens. O rei Abdullah tem 87 anos e ontem voltou ao país depois de três meses de tratamento médico.

Seu irmão, o príncipe herdeiro, tem 83 anos. O ministro da Defesa tem 81 anos.

Essa gerontocracia governa o país de forma tirânica, tendo o Alcorão como constituição, e a Sharia como código penal. Fala-se pouco das barbaridades dos Saud porque é uma ditadura amiga do Ocidente que fornece preciosos 10 milhões de barris/ dia de petróleo.

O Irã tem conseguido manter pela repressão o governo, por dois motivos. De um lado, o governo islâmico que assumiu há 32 anos montou um programa de assistência social das áreas rurais que haviam sido abandonadas pelo Xá Reza Pahlevi. Isso dá ao regime uma base de lealdade junto à população mais pobre. Segundo o presidente Mahmoud Ahmadinejad, oriundo das Guardas Revolucionárias, aumentou o poder desse grupo militar dando a eles empregos na direção do complexo industrial estatal, que é 60% da indústria do país. No Egito, uma parte da diplomacia vinha defendendo a ideia de que o país nada tinha a ganhar hostilizando o Irã. A permissão inédita em 32 anos de que navios de guerra iranianos passassem pelo Egito é um sinal de que esse grupo está sendo ouvido. Afinal, o atual governante era o mesmo Tantawi que, como ministro da Defesa, recusou outros pedidos.O mundo está mudando rapidamente, as peças no tabuleiro se mexendo com enorme rapidez. Nada mais é impensável.

Trem-bala, trem doido

O Estado de S.Paulo

Pode parecer estranho que este mineiro seja contrário ao projeto do Trem de Alta Velocidade (TAV) que ligaria Campinas ao Rio de Janeiro via São Paulo, porque sabidamente gostamos de trens. Contudo, esse TAV merece a execração de todos os que se empenham no uso de recursos públicos em projetos que econômica e socialmente se justifiquem. E que também não se conformam em ver um projeto deste alcance - e de nome também apropriado à ligeireza de seu preparo - que se quer empurrar goela abaixo da sociedade sem uma ampla e profunda discussão, provavelmente temida pelo governo pelo que traria de contraditório.

Como economista, sou também alérgico a uma proposta que não passaria pelo exame de um curso de análise econômica e social de projetos, tamanhos os despautérios que apresenta. Em Portugal, 28 economistas de prestígio assinaram em 2009 manifesto contrário a projetos locais desse tipo. Na linguagem típica de seu país, e com fundamentos nessa análise, há um diagnóstico que vejo também aplicável ao Brasil. Assim, afirmam que "...estudos parcelares disponibilizados sobre a sua rentabilidade econômica e social (mesmo se baseados em pressupostos optimistas), mostram que sua contribuição previsível para a essência econômica do País é muito diminuta, e pode ser até amplamente negativa em termos de Rendimento Nacional. E tem elevados custos de oportunidade no que toca aos fundos públicos, aos apoios da União Europeia e aos financiamentos (dívida externa) da Banca Nacional e do Banco Europeu de Investimentos. ...Tais estudos também evidenciam que, pelo menos na primeira década de exploração, não haverá procura suficiente para a rentabilização econômica e social de tão pesados investimentos. Irão originar, por conseguinte, prejuízos de exploração significativos, a serem suportados pelo contribuinte." (www.static.publico.clix.pt/docs/economia/apelo_economistas.pdf).

Transpondo essa avaliação para o projeto do TAV brasileiro, quanto aos fundos públicos eles serão imensos. Estima-se que o valor presente do custo para o erário seria, na hipótese mais otimista, de R$ 14 bilhões e, na mais pessimista, de R$ 36,4 bilhões. Ora, a própria discrepância desses números revela os enormes graus de incerteza e de risco que marcam o projeto, além de a experiência nacional mostrar que hipóteses pessimistas de custo são as mais atingidas, e frequentemente ultrapassadas.

Quanto ao "custo de oportunidade", ou seja, relativamente a projetos alternativos, não é preciso muita ciência para perceber que nessa área de transportes os recursos previstos para o TAV poderiam encontrar retorno econômico e social muito maior. Em particular, se aplicados nas grandes cidades ao transporte de passageiros que nelas gastam várias horas se locomovendo no vaivém de casa para o trabalho, entre outros movimentos.

Não há como resolver esse problema, que exige redes metroviárias entre outros vultosos investimentos, apenas com recursos estaduais e municipais. Supondo que o custo do TAV alcançasse perto de R$ 40 bilhões, isso daria para fazer 100 km de metrôs nessas cidades, a um custo estimado para São Paulo. Contudo, o governo federal, com os muito maiores recursos de que dispõe relativamente a esses outros entes federativos, deixa-os à míngua nessa área, e quer porque quer levar adiante esse TAV baseado em benefícios no plano das miragens.

Quanto à Banca Nacional, no caso o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), prevê-se que este abriria suas torneiras de recursos e subsídios para o financiamento do TAV, a um custo de R$ 4,8 bilhões só no segundo item. E há mais subsídios, pois, para garantir a realização do leilão do TAV, o governo vem estimulando interessados, que não são bobos, por meio de garantia da demanda de passageiros, a um custo que poderá alcançar R$ 5 bilhões.

Em contraponto ao projeto, no Brasil o economista que mais se tem destacado é Marcos Mendes, doutor em Economia pela USP e consultor legislativo do Senado. A última versão de sua importantíssima contribuição, da qual retiramos alguns dos números acima, pode ser consultada emwww.senado.gov.br/senado/conleg/textos_discussao/NOVOS%20TEXTOS/Texto82-Marcos%20Mendes.pdf.

Na mais recente cartada para atrair interessados na empreitada, o governo federal novamente forçou a barra e na aventura envolveu tanto os Correios como a Eletrobrás como participantes. O grande mistério do projeto é que forças o levam adiante em Brasília. Transparecem governantes megalomaníacos, políticos inescrupulosos, construtoras e investidores em alvoroço e traços de uma futura grande festa regada a doações para campanhas eleitorais.

De estranhar também a atitude do tradicional lobby ecológico, estimulado também de fora para dentro do País, que se manifesta tão agressivamente contra novas hidrelétricas na Amazônia, mas tem praticamente ignorado o TAV, apesar dos enormes danos ambientais que traria à região de seu trânsito. Ele não admite passagens de nível, exige cercas fortificadas, muitas linhas retas e curvas de grande arco, atropelando assim o que viesse pela frente, como nascentes, córregos, rios, várzeas, mata nativa e tudo o mais. Tampouco as comunidades em torno do trajeto projetado acordaram para esses e outros danos, inclusive a possibilidade de sua divisão em partes.

E mais: com o projeto e seu leilão para abril retomando velocidade, o TAV já segue na contramão fiscal mesmo antes de ser construído. A atitude do governo, que hoje se diz seriamente empenhado em ajustar suas contas a uma grave realidade, inclusive no plano da inflação, não condiz com seu renovado empenho no projeto. Sua tarefa hoje é recuperar a confiança da sociedade na sua política econômica, o que é indispensável à eficácia dela e que um trem doido como esse só pode atrapalhar.

ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), PROFESSOR ASSOCIADO À FAAP E VICE-PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE SÃO PAULO.

O mito da "nova classe média"

FERNANDO DE BARROS E SILVA
FOLHA DE SÃO PAULO

A "nova classe média brasileira" é uma das expressões mais repetidas por aí. Está em jornais, revistas e TVs, foi incorporada à fala rotineira do país. A campanha de Dilma a tratou com triunfalismo. Mas quem são -ou, antes, o que é exatamente essa nova classe?

Estamos falando de cerca de 95 milhões de pessoas, pouco mais de 50% da população, com renda familiar mensal que varia, grosso modo, entre R$ 1.500 e R$ 5.000. Em torno de 30 milhões de pessoas ascenderam a essa condição nos anos Lula. Sim, isso é ótimo, mas é um erro pensar que essas pessoas pertencem à "nova classe média".

Quem diz é o sociólogo Jessé Souza, que as chama de "batalhadoras". Em entrevista à Folha, no domingo, ele lembrou que a noção de classe social não pode se restringir à distribuição estatística da renda. E, disse, com muita razão, que em sociedades desiguais, como a brasileira, a classe média "é uma das classes dominantes porque é constituída pelo acesso privilegiado a um recurso escasso de extrema importância: o capital cultural".

Pense na sua formação, na remuneração e prestígio social a ela relacionados; pense na sua rede de relações pessoais e no colchão social que ela representa; pense no tempo que você teve para estudar (e viajar e vadiar) antes de começar a trabalhar; pense, ainda, na escola particular e no plano privado de saúde.

Os "batalhadores", diz Jessé, na sua esmagadora maioria estudam em escolas públicas de baixa qualidade e trabalham desde cedo, fazendo dupla jornada. A universidade como meta entrou há poucos anos no horizonte dessas pessoas. Se contraem uma doença mais séria, em geral são reféns do SUS.

Sem ignorar a precariedade dos serviços públicos, a rotina extremamente sacrificada e a superexploração do trabalho dessas pessoas que já não são "pobres", essa análise compõe um quadro menos idílico dos avanços e da coesão social do país. Falta muito chão para isso virar uma "middle-class society".

O GARGALO DA ALFABETIZAÇÃO

ZERO HORA (RS)


Recomendação do Conselho Nacional de Educação homologada ao final do governo anterior pelo ministro Fernando Haddad autoriza gestores de escolas a acabarem com a reprovação nos três primeiros anos do Ensino Fundamental, criando o Ciclo de Alfabetização e Letramento. A decisão, polêmica no meio educacional, foi motivada pelo fato de cinco em cada cem crianças ainda serem reprovadas logo depois de começarem a frequentar a sala de aula. Como adverte o fundador e presidente do movimento Todos pela Educação, Mozart Neves Ramos, “reprovar é um crime”, ainda mais quando a responsabilidade, nessa faixa etária, é mais da escola que da criança. Esse, porém, é o tipo da política que só faz sentido se for acompanhada da garantia de alfabetização para todos os alunos das séries iniciais.

Um dos grandes problemas na área de ensino é o fato de o país não estar conseguindo alfabetizar plenamente toda criança até os oito anos de idade, como seria esperado. Em consequência, 38% dos brasileiros entre 15 e 64 anos constituem-se hoje em analfabetos funcionais, tendo dificuldade de localizar informações básicas num texto e de estabelecer relações entre elas. Como essa é a realidade de muitos pais, os próprios filhos acabam recebendo pouco estímulo em casa para avançar no aprendizado.

Inovar para permitir avanços na área do ensino exige mais do que alterações como o fim da reprovação nas séries iniciais. É preciso acima de tudo apostar no aprimoramento permanente da educação. Isso significa contar com professores adequadamente capacitados e remunerados e também com mecanismos eficientes de aferição do ensino ministrado nessa etapa e nas posteriores.

Instituída a partir de 2008, com o objetivo de avaliar a alfabetização dos alunos até os oito anos de idade, a chamada Provinha Brasil é facultativa para os municípios e seus resultados ficam restritos particularmente ao âmbito dos educadores. Simultaneamente à preocupação de reduzir os índices de reprovação nos três primeiros anos de ensino, o poder público tem o dever de melhorar a qualidade do ensino ministrado, o que nesta fase implica necessariamente familiarizar todas as crianças com a leitura e a escrita.
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sábado, 19 de fevereiro de 2011

Comida ou biocombustível

Amigos, esta foi a figura com a qual abri minha apresentação de defesa de tese da Segurança Alimentar no Interamerican Defense College em jun 2008.




Já venho acompanhando o tema desde 2006 porque no Brasil, em função de orientação doutrinária de Lula e seu governo, Segurança Alimentar era uma mera questão de se melhorar o poder aquisitvo do povo, o que é, além de ledo, um flagrante engano.

O texto abaixo ilustra muito bem alguns dos principais argumentos estudados com seriedade pela comunidade científica no mundo sobre os quais me debrucei ao longo de dois anos.

Vale a pena acompanhar o tema, pois vai muito mais além da problemática iniciada por Sarkozy, tsunamis e secas, é um amplo problema de natureza estrutural da comunidade econômica mundial.

Atentar que eu sou piloto comercial e não nutricionista tampouco da área de saúde e me interessei por este tema fundamental para nosso desenvolvimento e redução de desigualdade social.

Extraído do Blog: ASSIM SOMOS (JEFFERSON WANDERLEY SANTOS)

Comida ou biocombustível
CELSO MING

O Estado de S.Paulo

Na sua edição de ontem, o New York Times publicou matéria com este título: "Precisamos de proteína, não de biocombustíveis" (We Need Protein, Not Biofuels).

A escalada dos preços da comida está aumentando a fervura política. OBanco Mundial já avisou que a escassez de alimentos empurrou 44 milhões de pessoas para abaixo da linha de pobreza. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, na condição de presidente rotativo do Grupo dos 20 (G-20) países mais ricos do mundo, quer intervenção para garantir a segurança alimentar.

Por enquanto, Sarkozy e os críticos ainda vêm pondo força no diagnóstico errado, o de que a disparada dos preços está sendo provocada preponderantemente pela ação dos especuladores financeiros. Mas à medida que esse argumento vai sendo rebatido - até mesmo pelo governo brasileiro - duas consequências parecem inevitáveis. A primeira delas é amaior flexibilização para desenvolvimento e produção de culturas geneticamente modificadas (transgênicas), que ainda hoje encontram fortes resistências na Europa e também aqui no Brasil. A outra é ocrescimento das pressões para proibir o desvio de grãos e de outros alimentos para a produção de biocombustíveis.

Os Estados Unidos, por exemplo, canalizam mais de 100 milhões de toneladas de milho para a produção de etanol, o suficiente para alimentar 240 milhões de pessoas, nos cálculos do professor Kenneth Cassmann, da Universidade de Nebraska, citado em outra matéria do New York Times. A própria União Europeia usa óleos vegetais (especialmente de canola e girassol) para a produção de biodiesel.

E o Brasil também tem lá seus fortes programas de etanol e biodiesel. No ano passado cerca de 335 milhões de toneladas de cana-de-açúcar foram usadas para a produção de etanol e mais não foram porque os próprios usineiros puxaram mais matéria-prima para suas fábricas de açúcar, cujos preços saltaram 72% no mercado internacional. Também por aqui 1,9 milhão de toneladas de óleo de soja deixaram de ser utilizadas na alimentação e foram empregadas na produção de 2,5 bilhões de litros de biodiesel.

Por enquanto, o Brasil vem defendendo a produção de biocombustíveis a partir de matéria-prima alimentar com o argumento de que há espaço para os dois segmentos. Mas à medida que crescer a escassez de alimentos, maiores serão as pressões e mais vulnerável ficará o governo brasileiro.

O crescimento da procura de proteína tanto vegetal como animal parece inexorável à medida que cresce a população dos países emergentes que ascendem à condição de consumidores. Desapareceram as montanhas de trigo e de manteiga nos países ricos que caracterizaram os anos de pós-guerra. Esta é uma extraordinária oportunidade para o Brasil. No entanto, um após o outro, os governos brasileiros renunciaram a ter uma política agrícola. A produção vai crescendo, sim, mas na base da inércia, estimulada apenas pelo que Deus manda, enfrentando custos predatórios e uma infraestrutura precária e desestimuladora.


Foi demais
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem surpreendido. Já vinha puxando seu quase inédito lado fiscalista ao defender a contenção de despesas. Ontem, reconheceu que o avanço do consumo de 10% em 2010 "talvez tenha sido excessivo".

Mais equilíbrio
Até recentemente, Mantega não admitia que o consumo avançava à frente da oferta e, nessas condições, produzia inflação de demanda. Agora, não só vem defendendo o vigor das importações (que ajudam a garantir a oferta) como a necessidade de contenção do consumo e da produção para que a economia volte a se reequilibrar.

Mais previsível
Ao afirmar que "a inflação no Brasil é menos volátil do que em outros emergentes", o ministro Mantega está reconhecendo implicitamente outra verdade: a de que a maior previsibilidade da economia brasileira foi obtida graças a uma política fiscal mais consistente e a uma política monetária mais firme.
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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Sequer um misero par de ideias

O artigo abaixo deixa bem claro o baixo nível de maturidade política e social que nossa sociedade, não obstante a estarmos na segunda década do século XXI e termos mais de 95% dos lares brasileiros com televisões, rádios e termos mais de 160 milhões de linhas celulares, atingiu.

É um processo sutil de involução social.
Não se discute grandes e fundamentais temas e a última campanha presidencial foi elaborada nos moldes próprios da ávida audiência: bate-bocas e acusações nos moldes dos famigerados programas vespertinos que arrastam audiências.

Será que assim atingiremos mesmo o posto de quinta economia em cinco anos?
Será que alguém leva mesmo a sério tal afirmação??



Sequer um misero par de ideias
CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O GLOBO


O que separa um liberal de um socialista na política brasileira? Nada. O que pode reuni-los? Qualquer coisa que sirva para alcançar e manter-se no poder.

O que pode determinar a troca de posições entre parlamentares de esquerda e de centro-direita (já que, sabemos todos, não há direita no Brasil)? Uns 15 reais no salário mínimo. O que separa um tucano de outro? Mais 40 reais. O que reúne todos eles? A completa falta de programa, a eliminação de qualquer compromisso nem digo com uma doutrina, mas com um mísero par de idéias.

O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, do Democratas e ex-Partido Liberal, está a caminho do Partido Socialista Brasileiro, como se fosse um movimento natural. E é. Nesse trânsito, não importa o programa dos partidos, mas em qual deles aumenta a chance de ganhar eleições.

O Democratas está acabando, não porque seja liberal. Seria se o partido tivesse apresentado à sociedade uma plataforma pró economia de mercado - por exemplo, diminuição do tamanho e da interferência do Estado, melhoria do ambiente de negócios para o empreendedor privado, corte de gastos públicos, redução de impostos, privatizações - e tivesse sido derrotado nas urnas.

Não foi assim. O partido apresentou uma colcha de retalhos, variando conforme o Estado, tentando dizer que apoiava aquelas políticas que apareciam bem avaliadas nas pesquisas de opinião. O povo gosta do Bolsa Família? Ótimo, prometa ampliá-lo. (Aliás, quem pode ser contra isso?) O pessoal quer mais salário-mínimo. Prometa 600 reais, mais que o governo do PT.

Claro que deveria perder. Com a economia andando bem - salários e crédito em alta, desemprego em baixa - por que o povo votaria contra o governo e a favor de um partido que prometia fazer a mesma coisa?

Na outra ponta, o Partido Socialista Brasileiro também não apresentou uma plataforma de esquerda - mais presença do Estado na economia, estatizações, controle socialista da produção e da distribuição, limites à empresa privada. Apenas se atrelou à popularidade do presidente Lula.

Ora, o PSB tem sua maior figura no governador de Pernambuco, Eduardo Campos, que precisa ampliar sua presença nacional, especialmente em direção ao Sul/Sudeste, para aspirar uma candidatura à presidência da República. Assim, o partido ganharia musculatura eleitoral com o prefeito da maior cidade do país e sua turma, que pode incluir o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo, e a senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil. Sim, ela em pessoa, no ninho socialista.

Mas não são socialistas, diria um militante antigo do PSB. Certo, mas quem é? De todo modo, liberais é que não são. Logo, todos se juntam, para que um ajude na eleição do outro.

Tudo se confirmando, a oposição se reduzirá ao PSDB. Mas qual oposição? A que propõe o salário mínimo de 600 reais, que simplesmente aumenta a despesa do INSS em R$17 bilhões, num momento em que o gasto do governo federal precisa ser reduzido?

A proposta de José Serra parece o que é, demagogia. Como é possível acreditar nisso vindo de um partido que, no governo FHC, implantou no país o muito bem-sucedido sistema de controle das contas públicas, cristalizado na Lei de Responsabilidade Fiscal?

A propósito, qual a proposta tucana não para o mínimo deste ano, mas para a previdência pública? Mais ainda, qual a doutrina social-democrata para a educação, por exemplo? A pergunta faz sentido. Em São Paulo, a joia da coroa do PSDB, a vitrine, o governo Serra/Alberto Goldman implantou um modelo moderno (baseado no mérito, remuneração maior conforme a qualificação dos professores e os resultados das escolas) que está sendo desmontado pelo novo governador Alckmin, também tucano, claro.

De outro lado, qual a proposta do PT e do governo Dilma para a Previdência? Nada. Tanto que colocaram no Ministério da Previdência um político que jamais pensara no assunto.

A presidente fez mais de um discurso contra a indexação dos preços, mecanismo de correção pela inflação passada e que perpetua essa inflação. E se abraça a um projeto de reajuste do salário mínimo que é uma superidenxação de um preço crucial na economia.

A agenda brasileira coloca inúmeras questões de médio e longo prazo. Educação, por exemplo. Nossas escolas públicas são ruins. Qual partido propõe e defende um plano firme para o ensino nacional? O PSDB tem um? Não, um pedacinho do partido tinha.

Previdência. O déficit somado do INSS e do sistema de aposentadoria dos funcionários públicos bateu em R$110 bilhões no ano passado. Conta para nossos filhos e netos. Os políticos odeiam tratar desse assunto, a não ser para aumentar o mínimo que piora essa conta.

Produção de alimentos. O Brasil tem a oportunidade única de ser o maior produtor de alimentos de um mundo que demanda cada vez mais comida. Qual a proposta estratégica para isso? Sim, Kátia Abreu tem a proposta do agronegócio, mas que não se tornou programa nem do Democratas.

Infraestrutura. Como construí-la em um momento em que o governo já gasta demais, mas não em investimentos? Vamos de privatização? Se não, onde arranjar recursos e competência?

E por aí não vamos. Como a política se faz no dia a dia, no caso do momento, de fato não importa se o cara é liberal, socialista, esquerdista ou social democrata. Ideias, dizem que não precisa. Mas a criação do Real, por exemplo, não resultou de boas ideias e boas práticas? Hoje, não tem ninguém na política que sequer se aproxime daquela turma do Real.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Culturas e ditaduras

Conforme já disse, nem sempre concordo com o que este professor fala, todavia, jamais deixo de ler o que ele escreve. É um cientista social de densidade e um senhor professor.

Sinto-me, até, no direito de ousar pensar que ele também me enviou um recadinho sutil, contudo não acho que o problema do Egito e dos demais países do Oriente Médio seja apenas um "cansei" da ditadura, ademais houve outros levantes sociais em épocas que o Egito estava mais rico com o petróleo, notadamente na década de 70 e a "cultura" acabou prevalecendo a zona de conforto e os levantes sociais não tiveram grande significado.

A questão, para mim, agora é mais profunda, tem a ver com a Turquia ser uma economia mais forte e estar adentrando na União Européia e para lá, ainda que em nível de expectativa social, estão migrando grandes investidores internacionais o que leva o país a ser um pólo geoestratégico bem mais importante do que o país das pirâmides.

Também acho que tem a ver com a China, sempre ela, desestabilizando em sua fome de commodities e produção interna mais barata para invadir as demais economias, afinal, com expressiva fatia de jovens de baixa qualificação desempregados, o Egito não tem como proporcionar ocupação laboral sustentável.

O emérito professor nem chegou perto desses aspectos e se adstringiu à questão da "guerra das Civilizações".
Dos demais jornalistas que estão se arriscando a escrever (até o Caetano Veloso achou que mandaria bem falando do atual Egito - não quer dizer que o Egito venha a auxiliar alguns a sair do merecido marasmo público) estou, ainda, esperando mais profundidade nas análises.

Enfim, não desqualifico o texto, seria até muita pretensão minha, mas que falta ir um pouco mais fundo lá isto falta.


Culturas e ditaduras
DEMÉTRIO MAGNOLI
O Estado de S.Paulo

"Mudamos nosso destino. Foi uma conquista da nossa geração." Em meio ao júbilo que tomou as ruas do Egito, um manifestante explicou que eles se sentiam "acima da Lua". As imagens da explosão de euforia tiveram impacto no Brasil. Naquele dia, por aqui, as pessoas comuns declaravam-se mais felizes. Por meio desse pequeno milagre que é a empatia humana, elas viram a si mesmas nos rostos e nos olhos dos egípcios. Quase todos com idade para isso enxergaram mais longe: viram, na Praça Tahrir, os contornos das multidões de alemães que, mais de duas décadas atrás, derrubaram a golpes de picareta o Muro de Berlim.

Quase todos, mas não todos, pois a ideologia é um ácido capaz de corroer a empatia. "O Egito não está preparado para a democracia", ouviu-se aqui e ali, na transposição do senso comum de um conceito corrente, difundido por respeitáveis analistas, que assevera a incompatibilidade entre a "cultura árabe" e o império da liberdade política. Cultura é uma palavrinha de mil e uma utilidades. A "cultura alemã" ("ocidental"?) seria um fundamento para a revolução democrática de 1989 ou para a revolução nazista de 1933?

A invocação incessante da cultura reflete uma forma singular de cegueira. Alguns viram, na revolução egípcia, não uma expressão amplificada das manifestações democráticas no Irã de 2009, mas a reprodução da trajetória da Revolução Iraniana de 1979. No Egito, não se verificaram cenas comparáveis às das massas que, em Teerã, seguiam estandartes com a imagem do aiatolá Khomeini. Mas eles enxergam apenas aquilo que mostram seus óculos ideológicos - isto é, a "insurreição dos muçulmanos". Árabes aqui; persas acolá - não são todos, no fim das contas, fiéis do Islã? A sentença irrevogável desses analistas expressa a tese dos arautos da "guerra de civilizações": Islã e liberdade política são termos imiscíveis.

"Olhe a cultura!", advertem nossos antiamericanos viscerais, sempre propensos a incensar a ditadura iraniana: "aquilo que é bom para nós não se adapta à sociedade deles." Lula, afinal, não mencionou as diferenças de "costumes" para flertar com o apedrejamento? A "cultura islâmica" figura como argumento oficial da teocracia iraniana na legitimação de seu regime. No mesmo Irã, mas antes de 1979, apelava-se à "cultura persa", pré-islâmica, para justificar a ditadura pró-ocidental do xá Reza Pahlevi. Culturas, tantas culturas...

"Hosni Mubarak ou o caos." O teorema, reiterado pelo ditador do Egito durante 30 anos, repousa sobre a chave mágica da cultura. "Caos", no caso, é o espectro do fundamentalismo islâmico, corporificado na Irmandade Muçulmana. Na incubadora proporcionada pelas ditaduras pró-ocidentais no mundo muçulmano, sob a luz fria do teorema culturalista, nasceram as árvores do jihadismo contemporâneo. Ayman al-Zawahiri, o egípcio que escreve os manifestos da Al-Qaeda, também manipula a chave da cultura - girando-a, porém, no sentido inverso.

"Depois de Mubarak, a Irmandade Muçulmana", alertam os neoconservadores nos Estados Unidos. Islã, fundamentalismo e jihadismo são termos interligados, mas não idênticos. Há quatro décadas, uma cisão separou os seguidores de Sayyd Qutb da corrente principal da Irmandade Muçulmana. Os primeiros fermentaram o caldo do jihadismo, produzindo a Jihad Islâmica, no Egito, e o embrião da Al-Qaeda, na Arábia Saudita. Enquanto isso, proscrita e perseguida, a Irmandade iniciava uma longa jornada de reflexão doutrinária. Uma encruzilhada crucial foi ultrapassada pela condenação inequívoca, sistemática, do terror "islâmico". Hoje, os Irmãos encontram-se no limiar de uma segunda escolha, entre fundamentalismo e democracia.

"O Egito cairá no colo da Irmandade Muçulmana", adverte o Estado de Israel. O Egito é uma sociedade mais complexa do que sugere o quadro bicolor do culturalismo. Durante todo o século 20, correntes liberais e socialistas moldaram uma paisagem política diferenciada, plena de matizes. A Irmandade obteve 20% das cadeiras no Parlamento em 2005, na única oportunidade em que a ditadura lhe permitiu concorrer apresentando candidatos independentes. Ela não representa a maioria dos egípcios, mas expressa a vontade de uma minoria relevante. Obviamente, não haverá no Egito uma democracia digna desse título sem a admissão legal do partido dos Irmãos.

Israel usa o argumento da cultura com a finalidade de prolongar a vigência de uma política insustentável de ocupação da totalidade da Palestina histórica. Para consumo público, seus dirigentes acenam com a ameaça improvável de um Egito aliado ao Hamas, o partido palestino fundamentalista oriundo de uma costela da Irmandade Muçulmana. Entre quatro paredes, contudo, eles temem o desdobramento da revolução árabe na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Como reagirá Israel se os palestinos, que são árabes, desistirem do sonho nacionalista de um Estado soberano e, como os egípcios, tomarem as ruas para reivindicar direitos políticos iguais no conjunto Israel/Palestina?

Turquia, não Irã - eis a pista apropriada para a especulação sobre o futuro do Egito. A Turquia é governada pelo Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), que emanou de sucessivas cisões e revisões do fundamentalismo islâmico turco. Numa via de dupla mão, o AKP nutriu-se da democratização da Turquia e contribuiu para a dissolução do autoritarismo militar que lastreava a república laica fundada por Kemal Ataturk. A facção majoritária da Irmandade Muçulmana interpreta a experiência turca como uma saída possível para o seu dilema. O jihadismo, ao contrário, enxerga na Turquia uma ameaça existencial: a síntese entre a cultura muçulmana e a democracia.

A história multissecular da reforma do Islã conhece uma aceleração no Egito. Os arautos ocidentais da "guerra de civilizações", presos à armadilha culturalista, nada têm de útil a nos dizer sobre isso.

SOCIÓLOGO E DOUTOR EM GEOGRAFIA HUMANA PELA USP.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A OARF a mitigação do déficit da saúde bucal pernambucana

A propósito das condições de saúde apresentadas no editorial do Jornal do Comércio de PE intitulado
O déficit da Saúde Bucal, gostaria de ressaltar, de sublinhar, de evidenciar e gritar aos quatro ventos meu orgulho de saber que os valorosos dentistas e auxiliares da Odontoclínica de Aeronáutica do Recife, OARF contribuíram, sobremaneira, na mitigação do quadro ora apresentado no relato editorial.

Tenho a honra de ser amigo do Ten Cel Dent César Junqueira, profissional de escol do Comando da Aeronáutica que, ao longo dos dois últimos anos, à frente dos excepcionais e provectos, apesar de jovens, profissionais da OARF que não mediram esforços para dar sua objetiva e, sobretudo, eficiente contribuição para a sociedade pernambucana.


Tal entusiasmo se dá em função de sua excepcional capacidade de liderança que mobilizou todos os valorosos dentistas e auxiliares da Odontoclínica de Aeronáutica do Recife, OARF, bem como pela cortesia, carinho e fidalguia que os profissionais tratam a mim, minha família e toda a Família Aeronáutica da Guarnição Aeronáutica do Recife e ainda encontram tempo e generosidade fraternal para nos momentos de laser, sábados, domingos e feriados, ao longo dos dois últimos anos nos quais ele dirigiu tal excepcional instituição e perfizerem um total de 15.000 atendimentos nas comunidades carentes do Estado Pernambucano nas conhecidas Ações Cívico-Sociais, tão esquecidas pela mídia de uma forma geral.

Ressalto, novamente, que tal hercúleo esforço se deu nos sábados, domingos e feriados, comprometendo apenas as merecidas horas de laser junto a seus familiares após extenuante jornada semanal a qual todos são submetidos.

Tenho a honra, inclusive, de ter tido a oportunidade de ser aceito por muitos deles nos espaços virtuais de relacionamento o que me permite, de uma tênue forma, retribuir com minha experiência e conhecimento as dádivas que eles nos oferecem.

A todos vocês diria que agradecer seria algo de inconveniente e, até, descabido. Para prestar o devido tributo gostaria de dizer-lhes que diante de tal desprendimento humano meu espírito se curvará em eterna reverência.

Jefferson Santos