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segunda-feira, 28 de março de 2011

Falsas clivagens

DENIS LERRER ROSENFIELD
 O Estado de S.Paulo 

O debate sobre a revisão do Código Florestal, que se intensificará nas próximas semanas, está sofrendo um tipo de contaminação - eu diria de poluição ideológica - que falsifica os termos mesmos da questão. Clivagens totalmente equivocadas são produzidas ao sabor das circunstâncias que atingem dimensões morais, sociais e políticas. Todas se articulam em torno das palavras "ruralistas" e "ambientalistas", empregadas por certos formadores de opinião como se simplesmente descrevessem a realidade, quando, na verdade, a deformam.

Do ponto de vista moral, os "ambientalistas" se colocam numa posição moralmente superior, como se fossem proprietários do "dever ser", dos valores que deveriam nortear a sociedade e o Estado. Produziram, para os inadvertidos, tal simbiose com as palavras "natureza" e "moralidade" que, muitas vezes, fica difícil se colocar como seus adversários. A razão é evidente. Os que seriam contra a sua posição seriam, por definição, contra a "natureza" e contra a "moralidade". Ou seja, o seu comportamento e as suas posições seriam "desinteressados", essa suposta "isenção" se transmitindo a ONGs nacionais e estrangeiras, assim como a ditos "movimentos sociais". Financiamento estrangeiro de ONGs, concorrência de produtores rurais e empresas do agronegócio estrangeiras, governos de outros países, posições esquerdistas dos movimentos sociais que atuam como organizações políticas desaparecem num passe de mágica, como se a moralidade fosse, neles, incorporada.

A própria palavra "natureza" tem várias acepções, pois é dita das mais distintas maneiras. Tomemos o seguinte exemplo. Para um francês e um alemão, valendo essa formulação para qualquer país europeu, tão amigáveis em relação ao meio ambiente, a palavra floresta designa bosques que são utilizados para passeios, piqueniques e encontros familiares. Assim, a "floresta" de Fontainebleau, na França, ou a "floresta" negra na Alemanha, tão apreciadas, são "florestas" antrópicas, produzidas pelo homem. Outros exemplos poderiam ser dados em regiões produtoras de vinhos, logo de vinhedos, que são também tomados como lugares de contato com a natureza. Isto é, áreas de agricultura são consideradas também como áreas de preservação da natureza.

Em termos ambientalistas, seriam eles devastadores da natureza, que alteraram radicalmente as florestas nativas, as "verdadeiras" florestas. Mas há um estranho silêncio sobre isso, os ambientalistas europeus e brasileiros se irmanando na defesa da "natureza", defendendo a "reserva legal", que seria, evidentemente, válida só para o Brasil. Se a "reserva legal" é uma medida de preservação da natureza, alguns diriam cientificamente "provada", por que não é ela válida universalmente? Por que as ONGs internacionais não lutam pela reserva legal em seus próprios países de origem? Por que a "verdade" científica vale aqui, e não acolá? Por que os europeus e americanos não recriam, com seus meios científicos e tecnológicos, as "florestas nativas"?

Do ponto de vista social, a mesma falsa clivagem entre "ruralistas" e "ambientalistas" se reproduz. O relatório do deputado Aldo Rebelo seria coisa de "ruralistas", se não de latifundiários inescrupulosos. Tomemos um exemplo. No final de fevereiro, a Federação dos Trabalhadores em Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Fetag-RS) lançou um abaixo-assinado defendendo abertamente a revisão do Código Florestal. Observe-se que se trata de trabalhadores em agricultura, agricultores familiares e pequenos agricultores, que estão simplesmente defendendo o seu pão de cada dia. Temem, se não houver a revisão, ser considerados "criminosos" ambientais da noite para o dia. Dedicam-se às culturas de arroz, uva e maçã, por exemplo, feitas, segundo os casos, em zonas de várzea ou em morros, que seriam simplesmente inviabilizadas. Trabalham com a natureza, não se opõem a ela, querendo ser simplesmente reconhecidos em seus cultivos, diria, "naturais". Por que os "vinhedos" daqui são nocivos à "natureza", enquanto os vinhedos europeus são simplesmente "naturais"?

Note-se que a Fetag-RS, assim como outras Fetags no País, se insurge contra a insegurança jurídica, defendendo, inclusive, a segurança alimentar. São contrários à quebra de contratos por meio de legislações ambientais de efeito retroativo e querem que suas propriedades e o seu trabalho sejam reconhecidos por aquilo que já produzem em áreas consolidadas. Na verdade, o relatório do deputado Aldo Rebelo retira todo esse contingente de trabalhadores e de agricultores familiares da zona de ilegalidade. São tratados como pessoas, e não como "criminosos". Ademais, convém ressaltar que sua defesa da "segurança alimentar" os afasta de ditos movimentos sociais como o MST e a Via Campesina, que procuram inviabilizar a economia mesmo de mercado e o direito de propriedade.

Do ponto de vista político, a clivagem "ruralistas" e "ambientalistas" tampouco reproduz a dicotomia entre "direita" e "esquerda", ou base aliada e oposição, como esses últimos pretendem fazer crer. Suas formulações não resistem nem à mais superficial análise da realidade. O deputado Aldo Rebelo é do PCdoB, e um membro da base aliada. Com ele, tanto na comissão quanto fora dela, estão deputados do PT que defendem as mesmas posições. O mesmo vale para os outros partidos, em especial para o PMDB, outro importante partido da base governamental. Logo, a "esquerda" estaria do lado da revisão do Código Florestal, ao contrário do que é sustentado por ONGs e "movimentos sociais". É bem verdade que deputados da base aliada se encontram também entre os adversários do relatório. O PSDB, por sua vez, se encontra igualmente dividido, com parlamentares seus situados em um e em outro lado. Isso mostra simplesmente a inadequação da utilização da clivagem entre "ruralistas" e "ambientalistas", entre "direita" e "esquerda".

O mundo maniqueísta foi simplesmente deixado de lado.

PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS.

Ninguém ouve os chatos

Por Jack Welch com Suzy Welch
Exame.com.br

1 - Vocês dizem que o líder deve ser transparente. Mas que conselho dariam a um profissional da média gerência que trabalha em uma empresa cujos líderes tendem a sufocar (ou abortar) a carreira das pessoas que insistem em fazer perguntas a eles?
(Anônimo, Minneapolis, Minnesota)

Antes de responder, gostaríamos de lhe fazer uma pergunta um tanto embaraçosa -- mas com o devido respeito, é claro: será que o problema não é você?

É comum que os líderes ignorem as "perguntas desafiadoras" porque tais questionamentos costumam ser mais irritantes que construtivos -- assim como as pessoas que os fazem. Se esse for o seu caso, sugerimos que você redirecione suas energias para o trabalho de fato. Caso contrário, sem mais nem menos, será convidado a deixar a empresa.

Admitamos, contudo, que não seja esse o seu caso, e que suas perguntas sejam pertinentes (embora possivelmente um tanto delicadas). Talvez você tenha um problema com a chefia. Isto é, seu chefe é um sujeito grosso e incapaz de um diálogo franco, principalmente em se tratando de assuntos mais polêmicos. Nesse caso, se você valoriza bastante seu emprego, o melhor a fazer é dar um tempo. Na maior parte das vezes, as boas empresas acabam detectando a ação desses indivíduos estúpidos e inimigos de idéias novas e os realocam, quando não os despedem.

Por outro lado, talvez você esteja diante de um problema de cultura. Pode ser que a liderança da empresa, de modo geral, não aprecie a curiosidade construtiva como forma de vida. Nesse caso, você precisa fazer uma pergunta a si mesmo: "Será que meu trabalho tem pontos positivos o suficiente que me permitam conviver com esse aspecto negativo?"

Não queremos de forma alguma influenciá-lo, mas a resposta poderia ser sim.

Veja o que aconteceu com um amigo nosso. Há 12 anos ele foi nomeado diretor de logística de uma pequena consultoria. Desde então, a firma tem se saído muito bem. Os três sócios da empresa, porém, nunca dizem claramente o que pretendem. Os empregados jamais sabem qual a estratégia dos sócios em relação à empresa -- se estão buscando o crescimento ou se pretendem vendê-la no futuro próximo -- ou que critérios usam para avaliar o desempenho dos funcionários. O resultado é um estado constante de ansiedade e de confusão elementar sobre estratégia e alocação de recursos.

Nosso amigo, porém, não pretende deixar a empresa. Primeiro, porque ganha bem. Em segundo lugar, porque mora perto do trabalho. O serviço é interessante, segundo ele, e os colegas são muito simpáticos. É claro que a falta de transparência da chefia o deixa bastante irritado ("de tempos em tempos", ele costuma dizer), e essa situação tem contribuído para tolher o crescimento da empresa "de modo substancial". Contudo, diz ele, "troquei um serviço nota 10 por uma existência com maior qualidade de vida. Para mim, foi um negócio e tanto".

Assim como nosso amigo, você pode decidir ficar e fazer as pazes com a situação. Ou então, se você chegou a seu limite, é hora de procurar outro emprego. O meio-termo entre uma opção e outra -- não sair e se entregar a reclamações constantes -- é o caminho mais curto para transformar o local de trabalho em um verdadeiro inferno (para você e para quem está a seu redor). É aí que o profissional começa a bancar a vítima. Gente que impõe a si mesma esse tipo de castigo acredita ser um herói derrotado. O chefe parece sugar-lhe a energia. Não caia nessa armadilha!

A escolha é sua. O importante é escolher, e não ficar em cima do muro.

2 - Durante anos chefiei uma loja de uma rede de varejo. Recentemente fui promovido ao comando de uma série de lojas. No entanto, me preocupo mais com o desempenho da minha antiga loja do que com o resto. O que devo fazer?
(Jerry Martellaro, Huntington Station, Nova York)

Você conseguiu identificar seu problema, e está de parabéns por isso. Muita gente na sua posição não se sente segura o bastante para admitir que caiu em uma das armadilhas mais comuns da ascensão profissional: acolher com entusiasmo um trabalho novo sem tirar um pé do antigo. Em vez de se preocupar com seu "velho lar", dedique suas energias a conhecer esse mundo novo e mais amplo que se descortinou à sua frente, tornando-o ainda melhor. Como?

Imagine que todas suas lojas são laboratórios. Sim, todas elas fazem quase a mesma coisa, mas algumas certamente possuem métodos ou procedimentos mais eficazes. Seu trabalho consiste em identificar essas melhores práticas e defendê-las como se fossem a coisa mais excepcional desde a descoberta das moléculas do oxigênio e do hidrogênio. Faça com que todos, em todas as lojas, troquem idéias, coloquem em prática as mais eficientes e procurem aperfeiçoá-las. A transparência é uma grande ferramenta à sua disposição para aperfeiçoar os negócios. Você já sabe quais parâmetros são responsáveis pela melhora do desempenho no seu setor. Se tais medidas não estiverem ainda disseminadas, resolva essa pendência. Certifique-se de que todas as lojas estejam a par das medidas comparativas. Esse tipo de política funciona muito bem.

Outra forma de melhorar a atuação nos negócios e evitar cair na armadilha do "pé na atividade anterior" consiste em implantar avaliações regulares e rigorosas do desempenho de todos os gerentes. As avaliações qualitativas serão baseadas no grau de empenho das pessoas em acatar os valores desejados, e as quantitativas se basearão nos parâmetros de produtividade instituídos. Juntas, as avaliações lhe proporcionarão uma chance de recompensar seus melhores funcionários, de ajudar e dar treinamento para o pessoal de desempenho médio e de expelir os de desempenho sofrível.

Seu novo trabalho é diferente e mais abrangente do que o antigo. Você tem muito o que fazer agora, mas suas novas atribuições não dizem respeito ao que você fazia antes. Deixe isso por conta da pessoa que ficou no seu lugar.

(Jack e Suzy Welch são autores do best-seller internacional Paixão por Vencer. Para fazer perguntas aos autores, escreva para agendadolider@abril.com.br)

Sociedade tem critérios mais democráticos

CRISTIANE OLIVIERI
FOLHA DE SÃO PAULO 

As notícias, quase sempre bombásticas, sobre o uso dos recursos da Lei Rouanet geram, normalmente, indignação da sociedade e a ideia de uso indevido.
Notícias como a do blog da artista Maria Bethânia vendem a necessidade de mudanças urgentes. Mas, com certeza, não será com a decisão imperativa do governo, parcial porque essencialmente política, que alcançaremos essa melhora.
Hoje, cada projeto é analisado por um parecerista técnico e aprovado por um conselho formado por representantes da sociedade civil e do governo. A análise não é de mérito, mas sobre adequação à lei e viabilidade financeira.
Em qualquer processo de seleção, é inevitável que sejam contemplados projetos não unânimes, toscos ou até mesmo discutíveis. Mas a excelência, não só da arte, não se faz com a aplicação de fundos em projetos perfeitos (quem os definiria, afinal!?). É um investimento de risco. A cultura é a medida e o espelho de uma sociedade e se constrói pela contribuição de todos, da inclusão dos unânimes e dos estranhos, da aceitação do oposto.
Não podemos mediar as escolhas pelo ponto de vista de uma classe, de um segmento ou de um governante de plantão.
O governo é feito de pessoas, com visão de mundo, apoiadores, parceiros e oponentes. É parcial, porque tem objetivos políticos.
Não pode ser colocado acima do bem e do mal. Na verdade, a história mostra que os governantes, geralmente, criam balcões para os amigos do rei. O processo de seleção existente é muito mais eficiente que decisões governamentais, com viés político partidário.
A mesma lei que aprovou o blog da Maria Bethânia aprovou também diversos projetos de formação de artistas, de inclusão de crianças e jovens pela arte, de institutos e programas culturais gratuitos, de preservação de patrimônio etc.
Cada um de nós terá razões para apoiar ou contestar essas decisões, mas não cabe ao processo de seleção excluir uma proposta de vídeos de poesias, disponibilizados on-line, gratuitamente, apenas porque envolve profissionais reconhecidos. Seria preconceito. Cabe sim, uma análise orçamentária e a garantia da distribuição democrática de seu resultado.
É importante também acrescentar que a discussão sobre projetos beneficiados é praticamente exclusiva da cultura. A maioria dos benefícios fiscais praticada pelo governo federal nem sequer tem processo de análise. São todos concedidos em atacado, como a redução dos impostos sobre venda de veículos ou de eletrodomésticos da linha branca. Mas, para esporte e cultura, implantou-se a análise do varejo.
E é bom frisar que, em 2009, a renúncia fiscal total para cultura representou 1,26% de todas as renúncias, enquanto os setores de comércio e serviços ficaram com 30,70%, e a indústria com 19,89% (ou seja, 50,59% do total!). E ninguém discute a pertinência ou a aplicação individual desses recursos pelo governo, muito mais robustos e suscetíveis a lobby.
A Lei Rouanet é ferramenta relevante para a produção cultural e para o público, que pode ter acesso às mais diversas produções, gratuitamente ou com preços populares, conforme as novas regras implantadas. Além disso, tem selecionado projetos relevantes.
O governo já fiscaliza o processo geral. Não haveria nenhum ganho para a sociedade em conferir-lhe também o poder de escolha.

CRISTIANE OLIVIERI, advogada, é mestre em administração das artes pela Universidade de Boston (EUA) e em política cultural pela ECA/USP.

O poder dos sentimentos

Nelson Motta
 O Estado de S.Paulo

A relação de amor e ódio entre Lula e Fernando Henrique já foi estudada em um livro de Paulo Markun com o sugestivo título de O sapo e o príncipe. Mas, além de um estudo psicanalítico, esse caso passional daria um romance.

Sim, os políticos também amam, também sofrem com rejeição e abandono, com ciúmes e traições. Eles tem paixão pelo poder, mas também outros amores, ambições e frustrações, da carne e do espírito. Lula e Fernando não são exceção.

Nem Dilma. Com todo respeito.

Mesmo na solidão do Planalto, ou por isso mesmo, quem sabe o seu coração não bate mais forte por alguém? Por um amor impossível e platônico? Ou por alguma fantasia, afinal, ela é presidente mas é mulher. E por que não uma relação amorosa plena? Ela teria todo direito. Marta Suplicy trocou de marido quando era prefeita e, de novo, como senadora. Por que a presidenta seria diferenta? Se Itamar namorava, por que ela não poderia?

Ao contrário de Lula, Dilma tem sido gentil, generosa e simpática com Fernando. Já fez reconhecimentos públicos de méritos de seu governo e cada vez faz menos criticas à sua administração. Conversou animadamente com ele em uma solenidade e o convidou a visitá-la, não só com o seu partido, mas também sozinho. Depois, no banquete de Obama, todo mundo viu o clima que rolou entre eles, brindando entre sorrisos e charmes. O velho professor continua em forma, a nova presidenta parecia encantada. Depois, ele falou maravilhas dela para a imprensa.

Dilma está mais segura, emagrecendo, melhorando o visual, tentando adoçar seu estilo duro e discreto. Mas as duronas também amam. E como! É um clássico de Hollywood. Dilma é, tem que ser para ter chegado aonde chegou, uma mulher forte e intensa, que pode ser muito atraente para senhores maduros apaixonados pelo poder.

Não seria nenhum absurdo se Dilma e Fernando quisessem se conhecer melhor. Ela poderia trocar ideias e afetos com um homem inteligente, culto e charmoso e não ficaria restrita às opiniões do círculo intimo palaciano. E de Lula, que morreria de ciúmes. Seria uma espécie de Romeu e Julieta maduro - mas com final feliz. 

Ano de 2070 - Crônica dos tempos

JORGE PERES » Contatos de JORGE PERES
JORGE PERES
Ano 2070
Eu acabo de completar 50 anos, mas para a minha aparência é de alguém de 85. Tenho sérios problemas renais, porque bebo pouca água. Creio que me resta pouco tempo. Hoje sou uma das pessoas mais idosas desta cidade.
Recordo quando tinha 5 anos. Havia muitas árvores nos parques. As casas tinham bonitos jardins e eu podia desfrutar de um banho de chuveiro por aproximadamente uma hora.
Agora usamos toalha de papel com azeite para limpar a pele.
Antes, as mulheres mostravam as suas formosas cabeleiras. Agora, raspamos a cabeça para mantê-las limpa sem água.
Antes meu pai lavava o carro com água que saia de uma mangueira. Hoje os meninos não acreditam que utilizávamos a água dessa forma. Recordo que havia muitos anúncios que diziam para CUIDAR DA ÁGUA, só que ninguém lhes dava atenção. Pensávamos que água jamais poderia terminar.
Agora todos os rios, barragens, lagoas e mantos aquíferos estão irreversivelmente contaminados ou esgotados.
Imensos desertos constituem a paisagem que nos rodeia por todos os lados. As infecções gastrointestinais, enfermidades da pele e das vias urinárias são as principais causas de morte.
A indústria esta paralisada e o desemprego é dramático. As fábricas dessanilizadoras são a principal fonte de emprego e pagam seus funcionários com água potável, em vez de salários.
Os assaltos por um bujão de água são comuns nas ruas desertas. A comida é 80% sintética.
Antes, a quantidade de água indicada como ideal. para se beber eram oito copos por dia, por pessoa adulta. Hoje só posso beber meio copo.
A roupa é descartável, o que aumenta. grandemente a quantidade de lixo.
Tivemos de usar as fossas sépticas como no século passado, porque a rede de esgoto não. funciona mais por falta de água.
A aparência da população é horrorosa: corpos desfalecidos, enrugados pela desidratação, cheios de chagas na pele pelos raios ultravioletas que já não têm a capa de ozônio que filtrava na atmosfera. Com o ressecamento da pele, uma jovem de 20 anos parece ter 40.
Os cientistas investigam, mas não há uma solução possível. Não se pode fabricar água, o oxigênio também está degradado por falta de árvores, o que diminuiu o coeficiente intelectual das novas gerações.
Alterou-se a morfologia dos espermatozóides de muitos indivíduos. Como conseqüência, há muitas crianças como insuficiências respiratórias, mutações e deformações.
O governo até nos cobra pelo ar que respiramos. 137m³ por dia por habitante adulto. Quem não pode pagar é retirado das zonas ventiladas, que estão dotadas de gigantescos pulmões mecânicos, que funcionam com energia solar.
Não são de boa qualidade, mas se pode respirar.
A idade media é de 35 anos.
Em alguns paises restam manchas de vegetação com o seu respectivo rio que é fortemente vigiado pelo exército.
A água tornou-se um tesouro muito cobiçado, mais do que o ouro e os diamantes.
Aqui não há árvores quase nunca chove. E quando chega a ocorrer uma precipitação, é de chuva ácida.
As estações do ano foram severamente transformadas pelas provas atômicas e pela poluição das indústrias no século 20.
Advertiam que era preciso cuidar do meio ambiente, mas ninguém fez caso.
Quando minha filha pede que lhe fale de quando era jovem, descrevo o quão eram bonitos os bosques. Lhe falo da chuva e das flores, do agradável que era tomar banho e poder pescar nos rios e barragens, beber toda a água que quisesse.
O quanto nós éramos saudáveis!
Ela pergunta-me: “Papai, por que a água acabou?” Então, eu sinto um nó na garganta. Não posso deixar de me sentir culpado, porque pertenço a geração que acabou de destruir o meio ambiente, sem prestar atenção a tantos avisos.
Agora, nossos filhos pagam um preço alto... Sinceramente, creio que a vida na terra já não será. possível dentro de pouco tempo, porque a destruição do meio ambiente chegou a um ponto irreversível.
Como gostaria de voltar atrás e fazer com que toda a humanidade compreenda isso enquanto ainda é possível fazer algo para salvar o nosso planeta terra!!!

segunda-feira, 21 de março de 2011

O negro, a mulher e o circo

Guilherme Fiuza 

O GLOBO

Os intelectuais de esquerda estão confusos. Com a visita do presidente dos Estados Unidos ao Brasil, está difícil escolher o tema do manifesto contra alguma coisa. Obama é negro e yankee. E agora? Com Bush a vida era muito mais fácil. Bastava copiar um dos panfletos do cineasta Michael Moore, maldizer o poder dos brancos, corpulentos e egoístas, e sair para o abraço no Teatro Casa Grande. Mas esse imperialista negro e magro é uma dor de cabeça para os indignados. O dicionário dos progressistas entrou em curto. Isso só pode ser coisa da CIA.

O governo do PT estava tranquilo até outro dia, fazendo carinho em Kadafi para libertar o mundo das garras yankees. Aí veio a realidade - essa entidade alienada - atrapalhar o conto de fadas revolucionário. No mesmo momento em que exaltar o ditador líbio se tornou uma coisa, por assim dizer, meio cafona, o presidente americano resolve baixar no Brasil. Para bagunçar ainda mais os estereótipos, Obama tem origem árabe - o que na cartilha da esquerda é sinônimo de bonzinho. Que palavra de ordem gritar para um monstro do bem?

A militância petista decidiu, por via das dúvidas, vaiá-lo. Afinal, acima das atenuantes politicamente corretas, o homem é o chefe da Casa Branca. Não dá para ser condescendente com um inimigo do companheiro Fidel. Mas essa decisão provocou um racha no partido. O governo popular já tinha decidido que, em lugar do velho rosnado terceiro-mundista, seria melhor seguir a linha da apoteose do oprimido: o encontro triunfal da primeira presidente mulher com o primeiro presidente negro.

Aí as vaias de partidários de Dilma a Obama iam estragar o enredo. Mas as bases do PT no Rio de Janeiro sustentaram que não dava para ver um presidente americano passar sem protestar. A direção do partido então resolveu a parada. Deixou de lado a conversa de liberdade para as minorias e, enchendo o companheiro Fidel de orgulho, baixou a censura de opinião para todos os filiados. Mais democrático do que isso, só se mandasse os dissidentes passarem o fim de semana em Teerã, para um workshop com o camarada Ahmadinejad sobre radioatividade.

Tudo pela tolerância - desde que com as coisas certas. Recentemente, um grupo de negros protestou nas ruas do Rio contra um bloco carnavalesco que homenageava Monteiro Lobato. Isso é tolerável. As "Caçadas de Pedrinho" não estão protegidas por lei, podem ser avacalhadas à vontade. Mas se alguém reagir a quem as está avacalhando pode ir preso. Reduzir um clássico da literatura a uma pinimba ideológica não é crime. Segundo os valores do Brasil de hoje, o que cada um faz ou pensa pode não ser tão importante quanto a cor da sua pele. Cuidado com quem você vaia.

O presidente da nação mais poderosa do mundo é, antes de tudo, um negro - pelo menos segundo a moderna ditadura dos estereótipos progressistas. E o grande projeto do novo governo brasileiro é ser chefiado por uma "presidenta", ordenhando essa panaceia sexista até a última gota. Ninguém sabe direito o que faz ou pensa Dilma Rousseff, mas na era do slogan o que importa é a excitação do imaginário. Talvez por isso, um governo prestes a completar três meses de vida sem um único projeto relevante gaste os tubos com proselitismo feminista.

No Dia Internacional da Mulher - a data mais machista do calendário mundial -, o governo federal veiculou na TV uma propaganda diferente. Mostrava uma menina mulata em variadas situações de brincadeiras infantis. E uma locutora dizendo que, no Brasil de hoje - o da "presidenta", bem entendido -, ela poderá ser o que quiser quando crescer. Espera-se que possa mesmo. De preferência, tendo ideias próprias, e não carregada na carona de algum padrinho populista.

Duas mulheres foram escaladas para receber Obama, o negro, em sua chegada a Brasília. As duas diplomatas infelizmente não são negras, mas o respeitável público há de perdoar essa gafe. Se elas declararem que não gostam de Monteiro Lobato, fica tudo certo. Como se vê, a cota de criatividade das "ações afirmativas" na recepção brasileira ao presidente americano não tem limites. Mulheres e negros jamais serão os mesmos depois de todo esse folclore politicamente correto. Espera-se que não gastem todas essas esmolas morais em cachaça. Melhor psicanálise.

No aquecimento para o grande circo das minorias, Dilma recebeu a cantora Shakira. Fez pose com o violão que ganhou da colombiana para combater a pobreza. O feminismo não poderia prescindir dessa imagem. Mas se o negócio é vender símbolos, está faltando uma foto com a Bruna Surfistinha. Ela não é militante, nem engajada, mas pelo menos é sincera.

E não ganha a vida com slogans.

Guilherme Fiuza é escritor.
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Senado aprova criação de CPI do Tráfico Humano

Resenha:


Mariana Jungmann
Repórter da Agência Brasil
Brasília – O Senado aprovou hoje (16) a criação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Tráfico Humano, com a leitura do requerimento de criação da CPI para investigar o tráfico nacional e internacional de pessoas no Brasil. A iniciativa recebeu 28 assinaturas de apoio dos senadores.
Se as assinaturas não forem retiradas até a meia noite de hoje, a investigação na Casa deverá durar 120 dias – prazo que pode ser prorrogado.
A autora da CPI, senadora Marinor Brito (P-SOL-PA), lembrou que o Brasil é signatário da Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional e de um protocolo adicional à convenção que trata especificamente da prevenção, repressão e punição do tráfico de pessoas.

O Presidente obama faz discurso interessado em um "contrato de gaveta com o PRÈ-SAL Brasileiro".


O Presidente obama faz discurso intressado em um "contrato de gaveta com o PRÈ-SAL Brasileiro".





"Alô, Rio de Janeiro. Alô, Cidade Maravilhosa. Boa tarde todo o povo brasileiro. Desde o momento em que chegamos, o povo desta cidade tem mostrado para a minha família o calor e a receptividade de seu espírito. Quero agradecer a todos por estarem aqui, pois sei que há um jogo do Vasco ou do Botafogo. Eu sei que os brasileiros não abrem mão do futebol.

Uma das primeiras impressões que tive do Brasil veio de um filme que vi com minha mãe, “Orfeu Negro”. Minha mãe jamais imaginaria que minha primeira viagem ao Brasil seria como presidente dos EUA. Vocês são mesmo um “país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza”.

Ontem tive um encontro com a sua presidente, Dilma Rousseff. Hoje, quero falar com vocês sobre as jornadas dos EUA e do Brasil, que são duas terras com abundantes riquezas naturais. Ambos os países já foram colônias e receberam imigrantes de todo mundo. Os EUA foram a primeira nação a reconhecer a independência do Brasil. O primeiro líder brasileiro a visitar os EUA foi Dom Pedro II.

No Brasil, vocês lutaram contra a ditadura, pedindo para serem ouvidos. Mas esses dias passaram. Hoje, o Brasil é um país onde os cidadãos podem escolher seus líderes e onde um garoto pobre de Pernambuco pode chegar ao posto mais alto do país. Foi essa mudança que vimos na Cidade de Deus. Quero dar os parabéns ao prefeito e ao governador pelo seu excelente trabalho. Porém, não se deve olhar para a favela com pena, mas como uma fonte de artistas, presidentes e pessoas com soluções.

Vocês sabem que esta cidade não foi minha primeira escolha para os Jogos Olímpicos. Porém, se os jogos não pudessem ser realizados em Chicago, o Rio seria minha escolha. O Brasil sempre foi o “país do futuro”. Mas agora esse futuro está aqui.

Estou aqui para dizer que nós, nos EUA, não apenas observamos seus sucessos mas torcemos por ele. Juntos, duas das maiores economias do mundo podem trazer crescimentos. Precisamos de um compromisso com a inovação e com a tecnologia.

Assim, queremos ajudá-los a preparar o país para os jogos. Por isso somos países comprometidos com o meio ambiente. Por isso a metade dos carros daqui podem circular com biocombustível. E, portanto, estamos buscando o mesmo nos EUA, para tornar o mundo mais limpo para nossos filhos.

Sendo o Brasil e os EUA dois países que foram tão enriquecidos pela herança africana, temos que nos comprometer com a ajuda à África. Também estamos ajudando os japoneses hoje. Vocês, aqui no Brasil, receberam a maior imigração japonesa no mundo.

Os EUA e o Brasil são parceiros não apenas por laços de comércio e cultura, mas porque ambos acreditam no poder da democracia, porque nada pode ser tão poderoso. Milhões de pessoas , que subiram da pobreza para a classe média, o fizeram pela liberdade. Vocês são a prova de que a democracia é a maior parceira do progresso humano. A democracia dá a esperança de que todos serão tratados com respeito.

Nós sabemos, nos EUA, como é importante trabalhar juntos, mesmo quando não nos entendemos. Acreditamos que a democracia pode ser lenta, mas ela vai sendo aperfeiçoada com o tempo. Também sabemos que todo ser humano quer ser livre, quer ser ouvido, quer viver sem medo ou discriminação. Todos querem moldar seu próprio destino. São direitos universais e devemos apoiá-los em toda parte.

Onde quer que a luz da liberdade seja acesa, o mundo se torna um lugar melhor. Esse é o exemplo do Brasil, um país que prova que uma ditadura pode se tornar uma próspera democracia e que mostra que um grito por mudanças vindo das ruas pode mudar o mundo.

No passado, foi aqui fora, na Cinelândia, que políticos e artistas protestaram contra a ditadura. Uma das pessoas que protestaram foi presa e sabe o que é viver sem seus direitos mais básicos. Porém, ela também sabe o que é perseverar. Hoje ela é a sua presidente, Dilma Rousseff.

Sabemos que as pessoas antes de nós também enfrentaram desafios e isso une as nossas nações. Portanto, acreditamos que, com a força de vontade, podemos mudar nossos destinos. Obrigado. E que Deus abençoe nossas nações."

Postado por hwhy007 às  Links para esta postagem
 

sábado, 19 de março de 2011

FIM DO MUNDO - EM 2012 A ARCA DE NOÉ (brasileira)

Quem escreveu isso merece nota "10"!
 
Um dia, o Senhor chamou Noé que morava no Brasil eordenou-lhe:
ANTES DE 21.12.2012, 6 meses antes, (NOVO FIM DO MUNDO)
farei chover ininterruptamente durante 40 dias e 40 noites, até que o
Brasil seja coberto pelas águas.


Os maus serão destruídos, mas quero salvar os justos e um casal de
cada espécie animal.
Vai e constrói 
uma arca de madeira.

No tempo certo, os trovões deram o aviso e os relâmpagos cruzaram o
céu.


Noé chorava, ajoelhado no quintal de sua casa, quando ouviu a voz
do Senhor soar furiosa, entre as nuvens:

- Onde está a arca, Noé?

- Perdoe-me, Senhor suplicou o homem.
Fiz o que pude, mas encontrei dificuldades imensas:

Primeiro tentei obter uma licença da Prefeitura, mas para isto, além
das altas taxas para obter o
 alvará, 
me pediram ainda uma
contribuição para a
 campanha de eleição do prefeito.


Precisando de dinheiro, fui aos bancos e não consegui
empréstimo, mesmo aceitando aquelas 
taxas de juros...

Corpo de Bombeiros exigiu um sistema de prevenção de incêndio,
mas consegui contornar, subornando um funcionário.


Começaram então os problemas com o IBAMA a FEPAMpara a
extração da madeira.

Eu disse que eram ordens SUAS, mas eles só queriam saber se eu
tinha um 
"Projeto de Reflorestamento" e um tal de
"Plano de
Manejo".


Neste meio tempo ELES descobriram também uns casais de animais
guardados em meu quintal..
.


Além da pesada multa, o fiscal falou em "Prisão Inafiançável" e eu
acabei tendo que matar o fiscal, porque, para este crime, a lei é mais
branda.


Quando resolvi começar a obra, na raça,apareceu oCREA e me
multou porque eu não tinha um Engenheiro Naval responsável pela
construção.


Depois apareceu o Sindicato exigindo que eu contratasse seus
marceneiros com garantia de emprego por um ano.

Veio em seguida a Receita Federal, falando em "sinais exteriores de
riqueza" 
e também me multou.

Finalmente, quando a Secretaria  Municipal do Meio Ambiente pediu
"Relatório de Impacto Ambiental" 
sobre a zona a ser inundada,
mostrei o mapa do Brasil.


Aí, quiseram me internar num Hospital Psiquiátrico!
Sorte que o INSS estava de greve...

Noé terminou o relato chorando,
 mas notando que o céu clareava
perguntou:

- Senhor, então não irás mais destruir o Brasil?
- Não! - respondeu a Voz entre as nuvens
- Pelo que ouvi de ti, Noé, cheguei tarde!


O governo já se encarregou de fazer isso!

segunda-feira, 14 de março de 2011

A próxima crise financeira

BARRY EICHENGREEN 
O ESTADO DE SÃO PAULO

Quando trabalhei no Fundo Monetário Internacional nos anos 90, um dos membros da equipe administrativa tinha o hábito de carregar no bolso do casaco uma lista de países que mais provavelmente experimentariam problemas financeiros graves. Isso não o capacitou, nem ao Fundo, aliás, para prever a crise financeira asiática. Mas, mesmo assim, a prática era uma forma útil de autodisciplina. Era uma maneira de meu colega se lembrar de ficar permanentemente atento aos riscos.

Estará despontando uma nova crise financeira? Se é verdade, quando ela virá? O que poderá acioná-la? E quais países estão sob maior risco? Os especuladores financeiros inescrupulosos instintivamente olham para as condições específicas dos países quando tentam responder a perguntas como essas.

O risco de crise é maior, eles observam, em países onde grandes aportes de capital alimentam o crescimento do crédito e originam bolhas nos mercados acionários. Ele é maior em países nos quais as taxas de câmbio se tornam sobrevalorizadas, augurando problemas de competitividade e desaceleração do crescimento econômico.

Mas a história sugere também que o timing das crises depende de mudanças nas taxas de juros nos centros financeiros internacionais.

Assim será provavelmente desta vez. Mais cedo ou mais tarde, as autoridades permitirão que as taxas de juros nos Estados Unidos, Europa e Japão subam de seus níveis atuais excepcionalmente baixos. E aumentos nas taxas de juros nos Estados Unidos, Europa e Japão dificultarão para os bancos em mercados emergentes expandirem seus balanços.

Taxas mais altas nos principais centros financeiros internacionais tornarão mais difícil para esses bancos captarem recursos no exterior para financiar o aumento dos empréstimos. Taxas de juros mais altas nesses centros significarão fluxos muito menores de investimentos estrangeiros para mercados emergentes de ações e bônus.

Então o recente sinal do Banco Central Europeu (BCE) de que ele está se preparando para aumentar as taxas de juros será um indício de problemas iminentes? Minha resposta é não. O elefante na sala não é o BCE, mas o Federal Reserve (Fed, o banco central americano). O dólar, não o euro, é a moeda financiadora dos bancos internacionalmente ativos. O gatilho da próxima crise será, portanto, a decisão do Fed de elevar as taxas.

Nesse ponto, os fluxos de capitais para mercados emergentes se inverterão. Os bancos nos países previamente no lado recebedor desses fluxos terão de contrair seus balanços. Haverá um aperto de crédito. Haverá problemas de liquidez, e talvez ainda piores, para instituições financeiras. Se os mercados emergentes estiverem despreparados, poderá haver uma crise financeira.

A boa nova, nessas circunstâncias, é que o Fed provavelmente não vai endurecer antes de 2012. Com o desemprego ainda em 9% nos Estados Unidos, não há nenhum sinal de aumentos nos preços dos alimentos e dos combustíveis resultarem em aumentos salariais. E, na falta de custos mais altos da mão de obra, a espiral preço-salário não está no horizonte.

Mas, se a economia americana continuar melhorando e o desemprego cair, a inflação poderá se tornar um problema para o Fed em 2012. Em outras palavras, os mercados emergentes talvez tenham mais um ano para se preparar.

E como andam esses preparativos? As autoridades financeiras do Brasil mostram sinais de ter instintos corretos e estão começando a dar passos na direção certa. O Banco Central (BC) brasileiro endureceu os requisitos de reservas e capital para impedir que os bancos continuem expandindo seus balanços. Ele espera que isso impeça esses bancos de terem de contrair violentamente o crédito quando vier o aumento das taxas de juro americanas. Corretamente, o BC brasileiro também elevou a taxa básica de juros (Selic) para impedir que as taxas de juros reais caiam com o aquecimento da inflação - taxas de juro excessivamente baixas são uma receita para empréstimos imprudentes.

É tranquilizador que o crescimento do crédito tenha se desacelerado significativamente em janeiro em consequência dessas medidas. Mas são igualmente preocupantes as projeções de alguns analistas de que está havendo um novo crescimento do crédito, de até 20% em 2011. Ninguém questionaria que o Brasil precisa desenvolver seus mercados de crédito. Mas assim, de imediato? Se essas projeções de 20% de crescimento do crédito mostrarem sinais de se confirmar, o BC deveria fazer mais.

É preocupante também a força do real, que cria problemas para os exportadores. A melhor maneira de tratar desse assunto é endurecer a política fiscal e, com isso, reduzir a pressão da demanda. Menos demanda doméstica significará menos gastos em bens locais e menos pressão para a elevação do real. Aqui, o novo governo de Dilma Rousseff enviou os sinais certos. Ele anunciou planos para reduzir o déficit orçamentário cortando gastos com defesa, educação, subsídios à habitação e à agricultura, e repasses ao BNDES. Mas, apesar de o Banco Central já ter agido, as autoridades fiscais ainda não o fizeram.

Outros grandes mercados emergentes estão tomando medidas preventivas também. A China freou os empréstimos bancários. O país está tentando conter o boom imobiliário. Além de endurecer os padrões de empréstimos e tomar outras medidas para desestimular a especulação imobiliária, o governo chinês prometeu recentemente construir 36 milhões de moradias populares nos próximos cinco anos, algo que ajudaria a conter os preços da habitação.

Mas a China também tem o problema adicional de que, diferentemente do Brasil, ela importa cerca de 40% de seu consumo de petróleo. Os brasileiros devem agradecer, portanto, à dádiva das áreas petrolíferas Tupi e Carioca, em outras palavras, e aos esforços de governos brasileiros anteriores para reduzir a dependência do país de energia importada.

A China, ao contrário, ainda depende pesadamente de energia importada.

Isso significa que, diferentemente do Brasil, ela corre o risco de uma tempestade perfeita - desaceleração do crescimento com forte alta dos preços do petróleo por causa da agitação no Oriente Médio, e endurecimento do Fed, tudo ao mesmo tempo.

A história recente nos lembra de que não devemos subestimar a capacidade da China de manter um forte crescimento, mas existe também um cenário em que o crescimento do país se desacelera rapidamente, criando problemas para ele e também, possivelmente, para seus parceiros comerciais.

Mas o país mais ameaçado do Bric não é China ou o Brasil, mas a Índia. Diferentemente do Banco do Povo da China e do Banco Central brasileiro, o Banco Central da Índia está aquém das necessidades. As taxas de juros na Índia estão mais baixas que a inflação. Um déficit orçamentário muito grande, da ordem de 10% do Produto Interno Bruto, agrava o problema do excesso de demanda. A dependência da população pobre da Índia de comida e combustível significa que o governo ficará sob pressão para subsidiar o consumo desses produtos essenciais, dificultando ainda mais o progresso na consolidação fiscal. E a Índia importa 70% de suas necessidades de petróleo, o que a expõe ainda mais que a China ao risco Oriente Médio.

Paul Samuelson, o economista laureado com o Prêmio Nobel e pai da economia financeira, disse certa vez que o mercado acionário havia previsto com sucesso nove das últimas cinco recessões. Os especuladores financeiros inescrupulosos também previram nove das últimas cinco crises financeiras. Mas justo porque erramos antes não torna menos importante repetirmos essas advertências agora. Devemos carregar uma lista das vítimas potenciais em nossos bolsos e atualizá-la regularmente. / TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK

PROFESSOR DE ECONOMIA E CIÊNCIAS POLÍTICAS NA UNIVERSIDADE DA CALIFÓRNIA, EM BERKELEY
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