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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Menos pão, mais gritaria

Bem, amigos, finalmente vejo alguém abordar o tema da mesma forma pela qual produzi minha tese para mestrado (nos EUA mestrado tem tese - thesis- e não dissertação).
Dentre os motivos que justifiquei meu projeto abaixo o jornalista abrange cinco deles.
Vale a pena acompanhar o tema.


Menos pão, mais gritaria

Celso Ming
O Estado de S.Paulo

Em casa onde não tem pão, todos gritam e ninguém tem razão, adverte o ditado. E é com preocupações voltadas para o potencial político explosivo do que está acontecendo que as autoridades do mundo começam a se mexer.

Os preços dos alimentos estão em forte escalada. Saltaram 23,9% em 2010 e, em janeiro, já subiram 3,4%. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, na condição de presidente rotativo do G-20, avisa que o controle da situação, ou o que isso venha a significar, está no centro da pauta de discussões.

Quinta-feira, em Washington, o presidente do Fed (o banco central americano), Ben Bernanke, defendeu-se da cada vez mais frequente acusação de que é o principal causador da escassez da comida (a seguir você tem a explicação). No mesmo dia, o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, fez um apelo para que os dirigentes mundiais enfrentassem corajosamente o problema. Amanhã, o ministro das Finanças do país mais poderoso do mundo, Tim Geithner, secretário do Tesouro dos Estados Unidos, desembarcará no Brasil para coordenar ação conjunta sobre o tema.

As divergências são enormes e começam pelo diagnóstico. Sarkozy insiste em que o principal problema é a ação dos especuladores, que estariam apostando dinheiro grosso na alta das commodities. É por isso, também, que a ação de Bernanke está sendo questionada. O Fed injetou US$ 1,7 trilhão na economia numa operação conhecida como afrouxamento quantitativo e vai reforçando com mais US$ 600 bilhões. Esse é o principal motivo pelo qual os mercados estão encharcados de dinheiro. Mas não dá para apontar o dedo acusador apenas para o Fed. Todos os bancos centrais dos países ricos estão despejando recursos nas suas praças.

Um segundo diagnóstico é o de que essa disparada de preços tem a ver com adversidades climáticas em grandes países produtores de grãos: seca na Ucrânia, China e Argentina; e inundações na Austrália.

Outro grupo de analistas aponta as compras maciças feitas por pessoas, especialmente na China, Tailândia e Bangladesh, que decidiram reforçar os estoques como medida de segurança alimentar.

Há, em quarto lugar, a velha acusação de que os países ricos, como os Estados Unidos, toda a União Europeia e também o Brasil, estão canalizando cada vez mais grãos para produzir biocombustíveis.

O quinto diagnóstico põe ênfase no crescimento do consumo. Mais de 40 milhões de asiáticos, principalmente na China, ascendem todos os anos ao mercado de consumo. Essa gente começou a se alimentar melhor. E essa é explicação suficiente para que se entenda todo o resto. Como nos acidentes de avião, não dá para excluir nenhum dos fatores. Todos eles concorrem para a produção do mesmo efeito. No entanto, o aumento do consumo global parece ser o mais importante.

As consequências disso podem ser terríveis. Em 2008, quando os preços do arroz triplicaram, os técnicos do Banco Mundial calcularam que 100 milhões de pessoas voltaram para abaixo da linha da pobreza. E, de barriga vazia, o risco de conflitos políticos tende a aumentar.

Se há enormes divergências de diagnóstico, mais ainda as há em relação às medidas a serem tomadas. Mas a análise dessas fica para outro dia.

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