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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Culpa das commodities?

Minha tese de mestrado foi acerca de Segurança Alimentar. Nada a ver com minha atividade original, contudo por tratar-se de um tema de constante potencial de instabilidade política e econômica, tive que transitar por muitos índices estatísticos.


De fato o que o nosso ex-embaixador e ex-Ministro da Economia diz eu comprovei, os dados de base são de médias históricas muito antigas e são absolutamente herméticos.


Comprovei, também, o que ele diz por intermédio de entrevistas com diplomatas especializados e um representante da FAO: há um protecionismo muito forte dos países do G-8 e União Européia sobre seus produtos e uma forte tendência de controle da produção mundial, notadamente dos países emergentes. Quem sempre sai perdendo são os países de baixa capacidade de produção.


Um dos motivos de eu não ter entendido a pressão de Lula para a compra dos caças franceses foi essa, pois a França, sempre que pode, botou empecilhos na comercialização de nossos commodities na Comunidade Européia. Foi quando ressaltei que a ideologia e a vaidade em se tornar um líder visível mundialmente estaria afetando os interesses da sociedade brasileira.


O economista em seu artigo abaixo explica, muito bem, o fenômeno.




Culpa das commodities?
Rubens Ricupero
FOLHA DE S. PAULO


A estabilização do preço das commodities agrícolas, que o Brasil tenta em vão privilegiar na agenda internacional desde a conferência de Bretton Woods em 1944, passou de repente a ser prioridade para os presidente da França, do Banco Mundial e para o diretor da Organização Mundial de Comércio.

Por que a súbita receptividade? Não teria havido volatilidade antes ou o tema apenas preocupa quando os preços sobem (raramente) e não quando desabam como durante a maior parte dos últimos cem anos?

Está em curso ação liderada pelo presidente Sarkozy para tentar controlar o preço dos alimentos na próxima reunião do G20, na França.

A iniciativa deve preocupar o comércio exterior e o agronegócio brasileiros. Ela patenteia a ingenuidade dos que acreditaram numa coincidência estratégica entre os interesses do Brasil e os da França, campeã dos subsídios e do protecionismo agrícola.

Da última vez em que os alimentos aumentaram (2008-09), chamei a atenção na Folha para estudo de Ocampo e Parra mostrando que a alta era só nominal e os preços estavam apenas se recuperando em termos reais.

Ao contrário do índice da FAO (Organização de Alimentos e Agricultura), que parte de base distorcida (1990, auge da queda), os autores do estudo compararam os preços com a média histórica de 1945 a 1980, fase de 35 anos de preços abaixo até da média histórica. Corrigiram as cotações nominais descontando a inflação do período.

Garantido por essas cautelas o estudo revela que: a) os produtos agrícolas sofreram nos anos 1980 colapso só comparável ao de 1920-21; b) a agricultura tropical foi a mais atingida pelo declínio de longo prazo dos preços; c) em 2008 os únicos produtos acima da média anterior (óleo de palma, trigo, bananas e borracha) não possuíam expressão na pauta exportadora do Brasil; d) continuavam muito deprimidos o cacau, o chá, o café, o algodão e o açúcar.

Valeria a pena que entidades brasileiras competentes atualizassem o estudo, utilizando a mesma metodologia. Duvido, no entanto, que o resultado seja muito diferente em relação ao obtido em 2008.

Lembro o precedente para alertar sobre o perigo de aceitar de modo passivo índices, estudos e campanhas que nos chegam com o selo prestigioso de organismos mundiais, escondendo estratégias adversas aos interesses brasileiros.

O problema das commodities agrícolas deve merecer atenção internacional, não apenas devido ao impacto dos preços em países importadores de alimentos.

É preciso não esquecer que a recente mudança para melhor no desempenho econômico da África e da America Latina não teria sido possível sem a recuperação das cotações de commodities.

O equilíbrio e a boa fé exigiriam também eliminar os subsídios dos ricos, que desestimulam a produção de alimentos em países pobres, tornando-os dependentes da ajuda alimentar.

Em seguida, impõe-se coibir a perniciosa especulação financeira em commodities.

Por fim, não se pode pensar em controlar preços agrícolas sem antes controlar fertilizantes, combustíveis e todos os demais insumos do setor que contribuem poderosamente para a formação dos custos dos agricultores.

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