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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Diplomacia e Interesses nacionais

Um texto maduro e coerente acerca de um tema pouco entendido por ser pouco explicitado à sociedade.
Vale conferir.


DIPLOMACIA E INTERESSES NACIONAIS
Flavio Lyra
Brasília, 05 de Dezembro de 2010.

O vazamento, através do Wikileaks, de cerca de duzentos e cinquenta mil comunicados das embaixadas dos Estados dirigidos à Secretaria de Estado desse país, mesmo que não venha a revelar nenhum fato de maior gravidade, chama a atenção para a natureza, invasiva e ampla do corpo diplomático desse país nos assuntos internos dos demais países em função dos próprios interesses nacionais.

Tem sido assim ao longo do tempo, e desde que se constituíram os estados nacionais as embaixadas dos grandes países sempre funcionaram como pontas de lança de seus interesses nacionais. A literatura está repleta de estórias sobre conspirações, subornos, espionagem, assassinatos e acesso privilegiado aos centros decisórios mais importantes dos países de menor peso relativo por parte das grandes potências.

O domínio que as grandes potências exercem sobre os países menores não é exclusivamente fruto da capacidade econômica e militar desses países como uma fôrça externa, mais é representado também pela mobilização de pessoas e instituições nacionais dos vários países, que constituem uma espécie de prolongamento de sua administração interna no exterior, comandada a partir de suas embaixadas.

Estão por demais documentadas as intervenções dos Estados Unidos em vários golpes de estado na America Latina. O Embaixador Lincoln Gordon, comprovadamente, teve importante papel na articulação do golpe militar de 1964, do qual herdamos uma ditadura de vinte anos. O Instituto Brasileiro de Ação Democrática- IBAD, com atuação conhecida no financiamento de campanhas na imprensa e de mobilização de intelectuais contra o governo de Jango Goulart, era financiado pela Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos- CIA. Nas diferentes esferas do governo brasileiro sempre existiram homens de confiança das embaixadas dos grandes países estrangeiros, dispostos a mobilizar seus poderes em favor dos interesses desses países potências, ainda que contrariando interesses nacionais.

Nos dias atuais já não são cometidas gafes como a do embaixador brasileiro nos Estados Unidos, Juraci Magalhães, durante o governo militar de Castelo Branco, quando declarou que “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil” , mas ainda há muita gente, com destaque para diplomatas aposentados, ex-alunos de universidades dos Estados Unidos, consultores de empresas, jornalistas e intelectuais de outras áreas, que se envergonham em defender uma política externa brasileira com maior autonomia frente aos interesses das grandes potências e centrada nos interesses nacionais.

Essas pessoas também se revelam muito cautelosas em criticar as políticas externas das grandes potências, mesmo quando é evidente sua ação daninha em relação aos interesses nacionais. Talvez temam ser rotulados de inimigos dos povos desses países, quando se trata meramente de discordâncias com relação à atuação de suas instituições políticas.

O discurso neoliberal associado ao avanço da globalização sob o controle das grandes potências tem procurado ocultar os conflitos entre os interesses das grandes potências e os dos países menores com a alegação de que o mundo agora constitui um grande mercado e que os estados nacionais e as políticas externas tendem a perder importância em favor das decisões impessoais orientadas pelas forças do mercado internacional.

Nada mais ilusório, as políticas externas nunca foram tão decisivas na conformação do marco em que são adotadas as decisões associadas ao processo de globalização dos mercados. Para um país como o Brasil que reúne muitas condições para afirmar-se cada vez mais como protagonista importante na área econômica mundial e como líder na defesa de uma ordem internacional mais justa, pacífica e respeitosa dos valores democráticos, é indispensável saber distinguir claramente quais são seus interesses nacionais e não hesitar em defendê-los sempre que necessário.

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